A dor e o sofrimento são realidades que a todos nos achacam – quem nunca teve uma dor ou quem nunca sofreu? –, fazem parte intrínseca da natureza humana, são, afinal, um dos sintomas da sua "normalidade". Sem centros álgicos que funcionem regularmente, o homem não chega a "homem": morre prematuramente, por ausência de possibilidade de tomada de todas as precauções relativas às agressões do mundo ambiente. São bem conhecidas as patologias neste domínio que fazem, por exemplo, com que uma criança viva perfeitamente "acorrentada", sob vigilância contínua dos pais, para se não queimar, ou cortar, ou ferir mortalmente. A inevitabilidade da dor e também do sofrimento (de diversíssima índole, desde a perda de um ente querido às injustiças e violências infligidas, etc.) é algo tão sabido por nós, como também ignorado, na súbita estranheza de uma sempre inesperada visita. Trata-se de realidades que têm tanto de familiar, como de estranho e pavoroso. Face a um fenómeno tão antinómico, o filósofo questiona-se sobre o teor do seu sentido. Juntamente com a morte, a dor e o sofrimento são questões filosóficas por antonomásia, porque escapam, na sua radicalidade última, à resolução - presente ou futura - no âmbito estritamente científico; ou se quisermos, noutra perspectiva, no âmbito de qualquer técnica de dominação da dor e do mesmo sofrimento. São questões metafísicas e morais que se prendem com a essência mesma do homem, com a sua (in)justificação fundacional, com o risco da sua liberdade, com a realidade do mal e o cortejo de situações que o acompanham: violência, tortura, ódio, inveja, prepotências… (Do Prefácio)
Com os textos e intervenções de: Nicolas Grimaldi; Rafael Alvira; Alejandro Llano; David Pavón; José Esteves Pereira; Jérôme Porée; Maria Luísa Couto Soares; Fernando Guimarães; Jorge Vicente Arregui; Jacinto Choza; Catherine Audard; Manuel Sumares; Maria Luísa Portocarrero; Maria Manuel Araújo Jorge; Daniel Innerarity; Luís de Araújo; José Maria Costa Macedo; Michel Dupuis; Maria José Cantista; José Jacinto Ferreira de Farias; António Braz Teixeira; Eduardo Abranches de Soveral; Manuel Cândido Pimentel; Mário Cláudio; Fernando Pinto do Amaral; Carlos Magno; Bénédicte Houart; Maria Manuela Martins; Sofia Miguens; André Veríssimo; Manuel Silvério Marques; António Martins da Silva; Carlos Borrego; Eduardo Lourenço, com a coordenação de Maria José Cantista.
A Dor e o Sofrimento, Coordenação de Maria José Cantista • CAMPO DAS LETRAS
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