Mania das grandezas

Eric Hobsbawm, o historiador que já publicou "A Era dos Extremos" e "A Era das Revoluções", analisa neste breve ensaio as diversas correntes de vanguarda artística que proliferaram durante o século XX e que assentavam no pressuposto de que as relações entre a arte e a sociedade se tinham transformado radicalmente. No entanto, segundo Hobsbawm, as vanguardas pictóricas, ao contrário das restantes artes, estavam à partida condenadas a um duplo insucesso: a sua incapacidade de ser "expressão de uma época", como até à data as artes visuais tinham sido, e a limitação técnica para exprimir essa mesma época.
Contrariamente aos escritores e compositores que aceitaram a produção de massas e a tecnologia da repetição ilimitada, os pintores não quiseram renunciar à obra de arte "única", realizada com as suas próprias mãos. Esta relutância resultou numa série de "vanguardas" pictóricas estéreis que, segundo o autor, estavam de antemão condenadas ao fracasso.

Muito mais do que qualquer outra arte criativa, as artes visuais sofreram com a obsolescência tecnológica. Estas artes, e especialmente a pintura, não foram capazes de adequar-se ao que Walter Benjamin chamou de "a idade da reprodutibilidade técnica". Desde meados do século XIX - isto é, desde a época em que podemos reconhecer na pintura movimentos de vanguarda conscientes - embora este termos ainda não tivesse entrado na linguagem das artes-, que as artes visuais tiveram noção tanto da concorrência da tecnologia, sob a forma da câmara fotográfica, como da sua incapacidade para sobreviver a esta concorrência. Um crítico conservador de fotografia afirmou, já em 1850, que a nova técnica iria pôr em perigo ramos da arte, como as gravuras, as litografias, as pinturas de género e os retratos. Cerca de sessenta anos mais tarde, o futurista italiano Boccioni sustentava que a arte contemporânea devia expressar-se em termos abstractos, ou melhor, através da espiritualização do que é objectivo, porque a "representação tradicional foi conquistada pelos meios técnicos".
Atrás dos Tempos - Declínio e Queda das Vanguardas do Século XX,
de Eric Hobsbawm
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