Bate sempre ;-p

Luiz Pacheco de certo modo não desapareceu. Há qualquer coisa dele que vai ficar sempre no ar. A voz? O cheiro da voz? A cor do cheiro da voz misturada e trocada por palavras. Sim, as palavras de Pacheco vão ficar sempre no ar, coladas às paredes de todas Santas Terrinhas, em altares. Isso. Dia 1 DP (Depois de Pacheco). Começa aqui uma nova civilização.
Na Bloom os livros de Luiz Pacheco já se foram, esperamos mais para breve. Temos cá uma ideia de atulhar a estantes com livros dele e já agora, na Praça, fazer uma estátua em tamanho real para as crianças e os velh0tes fazerem perguntas. Sim. Isso. Luiz Pacheco para sempre. Até já.

"E a Admirável Droga?", perguntaram-lhe.
Ele respondeu. quase de seguida, com o seu olhar de garrafa. Ninguém disse como estava vestido, às vezes Luiz Pacheco vestia-se apenas com advérbios de modo e pontos de exclamação. Não tinha queda para as reticências, era tudo directo. E isto foi o que saiu, o entrevistador era o seu biógrafo, João Pedro George:

A carta que tu me escreveste, quando aquilo saiu, foi a 1ª opinião que me chega sobre a Admirável Droga. Gostava que tivesses sido mais agreste. Não por masoquismo mas porque entendo que o teu adjectivo despudorado é ao mesmo tempo bastante pudico... discreto... delicado... Não estamos em tempos de PIDE, Censura, Clero da Inquisição. Dá-me vontade de rir estas coisas. Eu nem sei o que escrevi. Li agora aquilo como o livro de um outro. Quando revi, em Janeiro de 2001, as provas (ampliadas) escrevi no fundo da página três desabafos, que saíram colados ao texto. Que fazer? Nada. Autorizei a Senhora a fazer o que quisesse… e ela fez bastante, caramba! As pessoas, o que eu tenho visto, prendem-se ao escandaloso, ao insólito, falando vulgarmente, ao espectacular. É com elas. Tá bem, é assim. Não havia, creio que ainda não há, em português, originalmente, relatos com homossexualidade, pedofilia e por aí. Não vai tardar muito, creio! Nem eu me arrogo o Vasco da Gama, o Colombo, o Cabral desses “descobrimentos”. Nem está aí o meu objectivo. O Libertino é uma reportagem, escrita de jacto, no dia seguinte aos eventos relatados. Estes casos, dos marujos e da Emília, chegam-me de longe e já têm meio século.
Um livro de inéditos de Luiz Pacheco, autor "maldito" de "O Libertino Passeia em Braga a Idolátrica, o Seu Esplendor", breves textos que há uns anos estavam perdidos na gaveta de um editor. O título, como explica o próprio Luiz Pacheco, é inspirado numa frase de Hemingway, os textos na própria vida, em particular algumas maldições, o envelhecimento, a doença.
Em Luiz Pacheco, maldito renitente (nunca mal escrito), libertino confesso, autor de algumas das páginas mais "comestíveis" da nossa literatura dos últimos cinquenta anos (...) somos confrontados com a velha questão do relacionamento entre vida e literatura. Numa perspectiva algo romântica que mantém o seu encantamento até hoje, o escritor da linhagem dos aventureiros ou libertinos, tipo Benvenuto Celini ou Casanova, tem a própria vida como matéria prima inesgotável da sua escrita...
António Brás / Público
E nós perguntamos, perde-se Luiz Pacheco e quem é que se ganha em troca? Há sempre uma troca nisto de quando morre alguém, não é?

Uma Admirável Droga, de Luiz Pacheco
QUARTETO EDITORA • 54 PÁGINAS • 2001
[FOTO: LITTLE PEOPLE - A TINY STREET ART PROJECT]

1 Comment:

  1. Anonymous said...
    O Luiz Pacheco não se vestia! Despia-se!!

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