Pistas para a sua identificação - O cinéfilo tem sempre tempo para ir ao cinema.
- É muito chato e refere repetidamente aos amigos, e outras vítimas, cenas preferidas, actores, filmes, bandas sonoras e alguma trivia.
- Sabe a data de nascimento da Asta Nielsen.
- Não viu, inexplicavelmente, alguns filmes que toda a gente viu, como Música no Coração ou Os Canhões de Navarone.
- Viu filmes que mais ninguém viu, como La Petite Fée de Solbaken, e é especialista em géneros obscuros, como Bergfilms germânicos.
- Sabe nomes de directores de fotografia e as características gerais do seu trabalho.
- Desvaloriza Sundance em favor do Festival de Cinema de Telluride.
- Sorri, iluminado, quando alguém sai do cinema a dizer que o filme tem uma grande fotografia.
- Sabe de cor bocados de filmes obscuros, como O Coronel Wolodyjowski, e encontra meios de incluir nas conversas, mesmo a despropósito, referências a esses filmes.
- Vai ao cinema sozinho.
- Consegue lançar numa conversa, com uma certeza imune ao mais leve pestanejar, nomes difíceis, como Adoor Gopalakrishnan, Apichatpong Weerasethakul, ou mesmo, prova máxima, nomes de realizadores coreanos.
- Sabe que o último filme do Wong Kar Wai é uma merda.
- Usou gabardina e, a dada altura, cachecol à nouvelle vague.
- Vai às sessões das 14:00 e recorda que a certa altura havia sessões às 11 da manhã.
- Lembra, saudoso, ciclos de cinema a que assistiu há mais de 20 anos, e onde, invariavelmente, se passaram episódios inesquecíveis.
- Tem opiniões firmes sobre o cinema mudo dinamarquês.
- Sabe de cor títulos de filmes na língua original, preferindo dizer Neokonchenaya Piesa dlya Mekhanicheskogo Pianino a Peça Inacabada para Piano Mecânico.
- Também sabe títulos de filmes em bengali, ladaque, azeri, além de japonês ou russo.
- Por vezes finge não saber a tradução de títulos de alguns filmes.
- Teve/tem paixões fortes por actores ou actrizes. Uma vez jantou num restaurante em Carcassone onde estava, a 18 mesas de distância, a Catherine Deneuve.
- Odeia militantemente alguns géneros (como o musical – exemplo : Les Parapluies de Cherburg), alguns actores (Anthony Quinn), ou alguns filmes (Il Postino).
- Detestava, até à altura em que passou apenas a responder com um sorriso trocista, que alguém que não considera um “gajo do cinema“ lhe sugerisse ver este ou aquele filme, vivendo no terror de ouvir a frase : “ó pá, se és meu amigo tens de ir ver isto”.
- Passou horas em bichas para comprar bilhetes para ciclos, onde fez amizades para a vida. Conclui lembrando que: “ainda tenho lá em casa os bilhetes de...”.
- Abusa de frases superlativas começadas por Nunca, como: “nunca a Garbo esteve tão sublime como em...”, que faz acompanhar de um gesto de mão, abrangente e nostálgico.
- Vê filmes sem legendas em línguas que não domina.
- Insiste que os filmes do Syberberg: “até se vêem bem, é uma questão de entrar neles“.
- Só em casos excepcionais vê filmes dobrados, quando não há outra cópia de um filme dificílimo de encontrar, e envolvendo uma língua que não entende, como por exemplo um filme em dinamarquês dobrado para italiano.
[POR BOI LUXO em Luz de Inverno, no Hoje Macau da passada Terça-feira]
Bookmarkers: Cinema, Jornais / Newspapers, Português, Taste it, Vida / Life, Vision