Inundação das Letras

No panorama de crise que despertou o início do ano é com bastante dificuldade que os mais variados projectos culturais garantem as condições necessárias para continuarem a respirar. É um claro efeito de bola de neve. Vem atrás do pânico generalizado face ao desenho de um futuro negro espalhado pelos jornais e televisões e que, quando se olha para o dia seguinte, se reflecte no estrito consumo de bens necessários, sem deixar margem para o que pode sempre ficar para outra altura. Muitas vezes os livros fazem parte desse capítulo de elementos supérfluos que são substituídos por outras decisões de primeira ordem. Com isto as notícias de editoras em dificuldades deixa de ser uma surpresa. Mais se o propósito inicial do projecto não é virado para o consumo fácil mas para o incentivo da leitura e do conhecimento, trazendo novos autores e verdadeiras pérolas da literatura.
É com bastante tristeza que recebemos as notícias do possível fecho da Campo das Letras e das dificuldades da Cavalo de Ferro para se manter à tona da água. A Bloom apostou, desde o seu início, nestas duas editoras para a concepção de um catálogo de livros de qualidade no território, o que acabou por se tornar um feito inédito, a presença das obras destas editoras em Macau. Desde o contacto inicial que fomos recebidos de braços abertos, a Bloom nos primeiros passos, vinda do nada, desconhecida do mundo livreiro, formando parceiros que apostassem também em nós, criando as condições necessárias para que pudéssemos trazer uma grande colecção de livros para este lado do planeta. A Cavalo de Ferro sempre teve um lugar de destaque no nosso espaço, com prateleiras feitas à medida dos seus livros e separados de todos os outros, a certa altura tivemos toda as suas obras publicadas que, a pouco e pouco, se foram esquivando com o sabor dos clientes. A Campo das Letras encontrou o seu espaço espalhada por todos os cantos da nossa loja, foi ela que nos trouxe o Rubem Fonseca e o Ryszard Kapuscinski, por exemplo, foi lá que encontrei um livro de Bento de Jesus Caraça, de quem o meu avô sempre me falava. Ou a fabulosa colecção de livros infantis, com uma aposta em novos ilustradores e em novas vias de fazer livros.
E isto tudo faz parte da nossa história, da maneira como nos fomos encontrando, procurando trazer algo de único para Macau. Algo que se encontra de momento congelado e em período de plena avaliação. Acreditamos em melhores dias para a Bloom. São também esses os votos, e um grande abraço, que aqui deixamos a estes projectos de referência que nos acompanharam desde sempre.

NOTÍCIAS ADJACENTES:
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NA ENCRUZILHADA POR LUÍS FILIPE CRISTOVÃO (via BLOGTAILORS)
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NO CADEIRÃO VOLTAIRE

1 Comment:

  1. Anonymous said...
    Não se deixem levar por esse folhetim que envolve a Livraria Portuguesa. Gostaria sim de ver uma Livraria cheia de força e não aquilo que existe há muito tempo aqui, que só por ser central não é razão para ali ficar, com os livros caros e com pouca escolha. E um espaço enorme sem nada a acontecer. Nós estamos à espera do vosso regresso em grande. Vão regressar, não vão?
    Força!

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