Quem chega aqui por acaso ou quem ouve falar de nós e não nos conhece fica com aquela sensação de incerteza entre o desconhecido e o inesperado. Estamos cá e não estamos. Já estivemos. Por certo, vamos voltar a estar. Era o mesmo quando se chegava ao nosso espaço de quatro paredes. Vermelhas por fora, da mesma cor e de branco por dentro.
A Bloom nasceu, acima de tudo, de uma omissão existente no território de Macau, esta terra onde a sua sede germinou. Uma vontade de beber para além da miragem do oásis. Num desejo ardente de ter uma escolha e não apenas uma alternativa. Por poder passar os dedos pelas coisas e não por escolher o menos mau, só porque não há mais. Ou não ter que apanhar o barco e partir. Macau era assim. Deixou de ser tanto assim quando aparecemos. Quando começámos a disputar e a preencher o ânimo dos outros, a oferecer-lhes um mundo um pouco diferente.
Nascemos da união entre a paixão e o apetite, os livros, as histórias, o eco das vozes de quem as escreve, e foi por aí que prosseguimos o nosso caminho. Demos tudo o que tínhamos, investimos toda a nossa riqueza, a nossa vontade de dar, de abrir uma ponte ao indício que criámos no ar que quisemos tornar mais limpo. E crescemos, fizemos coisas novas, com as nossas mãos. Castelos numa terra fresca cheia de céu. Uma praça com um templo onde os barcos dantes chegavam. E a pouco e pouco começámos a andar, com os pés que tínhamos, com uma vontade enorme de abrir o cerco. De abraçar o mundo todo, de uma só vez. Por aí aprendemos e fomos errando, tropeçando em rota de colisão com o prólogo da nossa história. Que chegava com a carrinha azul cheia de presentes lá dentro.
A Bloom abriu no segundo mês do ano e foi um dia feliz, simples, sem alarido. Um percurso longo até ali chegar, que começou pelo lado mais baixo do chão numa folha em branco e se prolongou, continuando. E com o tanto que fizemos, falhámos de outro modo. Deixámos sem querer as pessoas à espera, os livros desordenados, por vezes sem rótulo. Nem sempre com as novidades mais prementes. Em certas ocasiões os dedos e a disponibilidade exclusiva não chegaram. Nunca tivemos encostos, éramos apenas dois pares de mãos.
Agora o presente foi interrompido de repente, não foi a carrinha azul que o trouxe. Seguirá pelo golpe de um outro momento. Para um lado ou para o outro. Mas sempre com o mesmo desejo, o de pôr o mundo a girar. O que nos trouxe até aqui e este, que nos levará de volta.
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Uma pergunta que também se pode fazer é "O que é Macau afinal?" Os portugueses sentem-se órfãos se lhes falta a mãezinha. Ainda não chegaram a 2009. Não sei o que vai acontecer à Livraria Portuguesa mas já não me interessa.