Ligar mundos

Como foi anunciado aqui e sem grande alarido da nossa parte, devido ao tufão e à crescente corrente de água e por tudo o que aconteceu posteriormente, a Bloom * Creative Network levou Carlos Marreiros à Faculdade de Arquitectura da Universade de Hong Kong dando início às palestras de Outono organizadas por esta instituição. A ideia era levar também o complemento dos livros, sobre a arquitectura de Macau e em específico sobre o multifacetado arquitecto macaense, ocasião que não se chegou a realizar. Acabámos por não estar em condições de acompanhar a pequena comitiva que se deslocou ao território vizinho porque no dia anterior o horizonte era bem diferente.
A palestra intitulada "Tracing Lines Between Two Worlds" acabou por ser um sucesso, com uma audiência repleta e uma grande projecção na imprensa local das duas RAE's. Para nós foi uma grande satisfação ter estabelecido este intercâmbio. É fulcral para o nosso projecto, na necessidade de discussão de todas as suas amplitudes, poder falar, mostrar e discutir tudo o que nos (des)encanta. Foi a primeira colaboração com esta instituição universitária, outras oportunidades surgirão para a contínua repercussão do nosso desígnio, e referimos aqui o "projecto" desta cidade como espaço multicultural e criativo. Para que não se esqueça é necessário incluir esta mescla de muita coisa e de coisa nenhuma que vive e ferve por entre as margens desta terra que há muito tempo tem o nome de Macau. Por alguma razão viemos aqui parar, por outra iremos algum dia partir. Até lá é preciso continuar e fazer a ligação entre estes mundos da realidade e da imaginação. Foi nesse âmbito, para além da clara alusão Oriente/Ocidente, que demos o título a esta sessão. Agradecemos aqui ao Arquitecto Carlos Marreiros pela pronta disponibilidade e a Ralph Lerner, o Decano da Faculdade de Arquitectura de Hong Kong, por ter dado a melhor continuação à nossa iniciativa.
Fica aqui a reportagem do Hoje Macau pela mão de José Manuel Simões.

Carlos Marreiros entusiasma plateia em conferência proferida em Hong Kong
'A arquitectura serve para promover a felicidade'

Carlos Marreiros, um arquitecto com alma, esteve na Faculdade de Arquitectura de Hong Kong onde foi escutado por uma pequena multidão que se rendeu aos seus dotes de oratória, experiência e ousadia.

À conferência, inserida nas Palestras de Outono e realizada em parceria com a Bloom Creative Network de Macau (que alagou mas não morreu), compareceram cerca de 150 pessoas, na sua maioria estudantes de arquitectura, mas também professores e arquitectos, inclusivamente Ronald Lu, Presidente do Instituto de Arquitectura de Hong Kong.
O arquitecto de Macau falou sobre as relações entre arquitectura, sociedade e economia, debruçou-se sobre a arquitectura da miscigenação e da transgressão — sobretudo a da sua cidade — afirmou que “Macau transgride pois, desde as gaiolas de ferro até aos volumes e tamanhos, há muitas coisas que não deveriam sequer existir”.
No seu discurso, percorreu o património construído no Território, desde o chinês e o português até ao dos nossos dias, afirmando que “património é tudo o que faz parte da memória colectiva, independentemente da sua idade, inclusivamente o que está a ser feito agora”. Ou seja, do património mais antigo até ao modernismo, com destaque para a obra de arquitectos como o modernista Cham Kuan Pui ou Raul Furão Ramalho Costa, que percebeu como ninguém o clima e a atmosfera de Macau, Manuel Vicente Bravo, Bruno Soares ou Adalberto Tenreiro.

Viagem pelo tempo

Um discurso que foi uma espécie de viagem pelo tempo, onde Marreiros enquadrou alguns dos seus trabalhos, dos mais pequenos aos de maior envergadura como o do Estádio de Ténis em Coloane. Como não podia deixar de ser, falou ainda do exercício de fazer arquitectura, referindo que “um arquitecto não pode limitar-se a ser competente ou apenas um agente de construção. Tem que ser inovador, adiantar-se ao seu tempo, não se prender ao gosto instituído”. Tem que ser criativo, inovador, ousado. Afinal, “a arquitectura serve para promover a felicidade”.
Marreiros, que na palestra chegou a interpretar John Lennon em “Imagine”, acredita que a globalização é inevitável, acredita na fraternidade universal e no direito à diferença. Todavia, crê, “a globalização só tem valor quando sabemos que o lugar onde vivemos tem alma”. Ao basear a sua obra numa dialéctica de procura e de pesquisa intercultural, Carlos Marreiros vai certamente deixar o seu nome escrito na RAEM. Ele sabe como ninguém pegar na tradição e refaze-la com contemporaneidade. Ele é o exemplo da arquitectura de autor que não se confina à ideia de edifício ou de casino, que não é obtusa nem cria prédios que sobem para cima de passeios.
As Palestras de Outono prosseguem até 25 de Novembro, com Jurgen Mayer, alemão de Berlim, Rene Tan, de Singapura, Mirko Zardini, director do Centro Canadiano para Arquitectura, Remo Riva, de Hong Kong, Laurie Hawkinson e Reinhold Martin, ambos da Universidade de Colômbia, Nova Iorque.
[POR
JOSÉ MANUEL SIMÕES]
OUTRAS LIGAÇÕES AO MESMO TEMA:
Traços e palavras da interculturalidade [JOSÉ MANUEL SIMõES in HOJE MACAU - 26 SET]
Desafios arquitectónicos em Macau[SÉRGIO TERRA na TRIBUNA DE MACAU - 30 SET]
Macau's heritage work praised in Hong Kong [ROBERT CARROLL in MACAU DAILY TIMES - 3 OUT]
Carlos Marreiros' profile [MACAU DAILY TIMES - 3 OUT]

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