Não sei. Liguei a música, o som veio lá do fundo, num crescendo, tomando todos os sentidos. As linhas. O pensar.
E esqueci-me.
Fechei os olhos, à espera. Fui ficando. Uma frase. Outra frase. O mínimo para um pequena estrada. Um parágrafo. Mas que estrada me trazia aqui?
Vejo sempre esse caminho. Sei-o de memória: É quase fim do dia. Uma recta sem fim, o alcatrão já esbadito, cheio de tempo e de rodas. Um céu sem cor, ou talvez cheio dela. E a tarde a esvair-se. Um vermelho ali, por entre umas nuvens azuis e o sol a deixar todo o seu medo para trás ao ver a curva no fio do horizonte. Invisível.
É nessa estrada que eu vou ficar. Ao lado, no campo, a um nível mais baixo, vou deixar estar aí tudo o que faz o meu corpo. A terra mole e húmida, com os cheiros todos. O cheiro dos animais que passaram. E aqueles sons dos pássaros.
A estrada ainda molhada, da chuva que caiu e que deixou o céu revoltado. E a dor do ventre dos pneus que me diz o que estou aqui a fazer.
O que estou aqui a fazer?
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