Apresenta São

JO E ZO. UMA SALA/QUARTO SEM KITCHENET. PAREDES COLORIDAS. UM DELES ESTÁ NO PARAPEITO DA JANELA COM UM LIVRO NA MÃO, QUE ABRE NO PRIMEIRO CAPÍTULO.
- "No primeiro dia do Ano Novo ninguém morreu..."
- Quando? A sério?
- Sim, ninguém morreu. Mas como é que sabes?
- Estás agarrado a esse livro e eu ouvi.
- Ouviste? Eu não disse nada. Só estou aqui a ler. Estou a ler baixinho, dentro da minha cabeça.
- Está enganado. Porque eu ouvi. Disseste: "no primeiro dia do Novo Ano ninguém morreu..."
- Não, não disse! Li! É o livro do Saramago em que ninguém morre durante uma data de dias. E nem foi isso!
- Eu conheço esse livro. Não o li todo, não me apeteceu. Cansei-me. Preferia que ninguém tivesse morrido para sempre. E não começa assim, pois não? Começava: "No dia seguinte ninguém morreu."
- Sim, era o que estava a dizer, não foi bem isso.
- Mas foi o que disseste. Ouvi a tua voz. Mas agora não quero de todo ouvir um livro-falado.
- Deixa-me continuar. Deves estar a precisar de ir ao médico. "No primeiro dia do Ano Novo ninguém morreu..."
- Vês. Não sabes estar calado?
ANTES DESTE DIÁLOGO NINGUÉM ESTAVA NA VERDADE A FALAR. TRATA-SE PORVENTURA DE UM CASO DE TELEPATIA QUE POSSO AVERIGUAR SE ESTIVER PARA ISSO.

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