A crítica fala em “regresso à ficção metafísica” e eu acredito que sim, mas nada disto me interessa, bem vistas as coisas. O que me interessa mesmo em Travels in the Scriptorium, o mais recente de Auster, é a possibilidade única de mergulhar nas palavras e de, sem saber como, me encontrar fechada no quarto onde a história se passa. E o facto de todas as personagens de Auster, de mundos com variáveis graus de ficção, serem invariavelmente como nós.
Em Travels in the Scriptorium, a narração é feita de fora. A história é contada a partir das gravações do quarto onde vive Mr. Blank, a quem roubaram a memória e, por isso também, a vida. Mr. Blank vai tentando perceber quem é, quem foi, porque está ali. Nós também e ao mesmo ritmo. Angustiante, por sinal. Os livros de Auster são assim: quando acontece o ritual do início da leitura, é difícil parar. E é também difícil sair de dentro das palavras. Hoje estou neste quarto enigmático, na companhia de Mr. Blank.
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Boa viagem!