Manhã de sábado. Ida ao mercado. A azáfama do costume. Rãs, peixe e caranguejos são talhados sem a mínima hesitação. Passemos à fruta. Alguns vendedores lançam uns apelos em português macarrónico. Finjo não ser para mim. Mangas. Generosas, amarelinhas com um ligeiro esverdeado, amanhã de manhã estarão mesmo boas para comer. Pequeno-almoço saudável. Com um sinal de dedos pergunto quanto é. – Sap i man sam có. Começo a andar desinteressado, – Suna, suna, sap man sam có. Concordo, volto atrás para escolher uma dúzia.
Engraçado, quando era miúdo eu e os meus amigos em Moçambique, não podíamos com mangas maduras. Aquilo enjoava-nos. De manhã íamos para a escola, cada um com um pequeno embrulho em papel caqui onde púnhamos sal grosso e piripiri. À saída no caminho para casa, nas árvores de propriedade de alguém, à pedrada deitávamos abaixo umas quantas mangas verdes. Trincávamos um pedaço molhávamo-lo com a língua para depois tocar no sal com picante. Sabor do outro mundo, de um outro tempo. Everything changes, diz o narrador de Eveline em Dubliners.
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