Como se Borges se pudesse reescrever

AS RUAS

As ruas de bom ar
viajam comigo
na minha entranha.
Sou tudo o que nelas existe
os passos, os instantes.
Sou a rua a existir nela.
Alguma coisa que já foi.
Que está a ser,
sempre.
A ilusão.
Sou o nevoeiro de uma distância que nunca morre
nas ruas nervosas e sôfregas
que circulam no meu recôndito desejo
em vidas inebriadas de história.
As ruas,
são para a solidão uma promessa
de milhares de almas que não são vistas
numa ilusão de céu e planície.
O bairro,
monótono e invisivel
de tão habitual,
está dentro de mim.
Estão dentro de mim
o invisível e o hábito.
E o Este?
Um deus de tempo decerto precisoso,
uma promessa de pátria
povoada de estandartes.
E este que eu sou,
dentro,
na rua,
um quê dentro de mim,
não é Buenos Aires,
é o Mundo.
E tudo o que eu sou,
no verso,
é o meu hábito invisível.
A minha versão d' "As ruas" de J.L.B.- publicado anteriormente AQUI.
do original:
AS CALLES

«Las calles de Buenos Aires
ya son mi entraña.
No las
ávidas calles,
incómodas de turba y de ajetreo,
sino las calles
desganadas del barrio,
casi invisibles de habituales,
enternecidas de
penumbra y de ocaso
y aquellas más afuera
ajenas de árboles piadosos
donde austeras casitas apenas se aventuran
abrumadas por inmortales
distancias,
a perderse en la honda visión
de cielo y de llanura.
Son
para el solitario una promesa
porque millares de almas singulares las
pueblan
únicas ante Dios y en el tiempo
sin duda preciosas.
Hacia el
Oeste, el Norte y el Sur
se han desplegado – y son también la patria – las
calles:
ojalá en los versos que trazo
estén esas banderas.»
J.L.B.
em "Fervor de Buenos Aires" / 1923

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