Como se hoje fosse amanhã (ou vice-versa)

Comemora-se mais um Dia da Liberdade. Dia que ficou para sempre gravado na memória de Portugal e dos portugueses a partir do dia 25 de Abril de 1974. Mas a memória por vezes é curta e é preciso exercitá-la. E porque já passaram trinta e três anos sobre esse dia - tanto tempo! - as novas gerações ficam apenas com a Históra para que aprendam e assimilem esse pedaço de conhecimento. Um testemunho do passado que jamais será riscado porque nos pertence e será sempre assinalado ao lado dos Barões que se esperguiçam sempre que se canta o hino. É bom que não se esqueça. Cabe àqueles que pela pele sofreram os derrames do Antigo Regime levantar a sua voz e contar. Passar a palavra. Para que se fale dos valores dessa data, do seu significado, das mudanças. Do céu que se abriu.
Hoje, o mundo é diferente, o país mudou. Não como uma viragem mas como um ciclo. Como se da herança desse passado negro, que antecedeu o 25 de Abril, e na falta de oportunidades e de caminhos, o povo português se justificasse de novo, quase a pedir perdão, e queira voltar ao ponto de partida.
Recentemente, Salazar foi votado como a personalidade mais importante da História de Portugal. Sob as garras da ditadura do Estado Novo, Portugal encostou-se à cauda da Europa e por lá ficou. Período esse em que a ignorância e o analfabetismo eram benvindos, porque se podiam substituir por outras coisas mais básicas, e assim continuar a governar à sombra da ilusão. Anos e anos dentro de um pântano húmido. E até hoje o país não se conseguiu livrar desse espectro. Agora vangloria-se o passado e os seus fantasmas. Não porque verdadeiramente se deseje viver assim de novo mas porque nessa altura se sonhava e se respirava a utopia da mudança. E é isso que o Povo quer: sonhar, viver com os olhos postos na Lua, à espera das Caravelas.

No âmbito das comemorações do 25 de Abril, acompanhado por uma exposição de fotografia, a Assírio & Alvim lançou o livro «POR TEU LIVRE PENSAMENTO – Histórias de 25 ex-presos políticos portugueses», uma obra com testemunhos de resistentes antifascistas, da autoria de Rui Daniel Galiza e com fotografia de João Pina. O livro e a exposição são o resultado de entrevistas efectuadas a ex-presos políticos, por dois jovens sem qualquer memória pessoal do período em questão, que pela sua acção de luta contra o Estado Novo e em prol da implementação da Democracia em Portugal, viveram experiências de privação de liberdade e maus tratos nas prisões do fascismo. Factos e figuras que parecem simultaneamente tão próximas e tão distantes da memória colectiva de todos nós, principalmente das gerações que os sucederam, para quem a democracia e a liberdade são factos consumados.
Uma das lamentações que os entrevistados mais transmitiram foi o facto de, na sua opinião, Portugal ser "um país sem memória". O objectivo dos autores é prestar um contributo para que se consiga dar a conhecer o que era viver no Portugal de há poucos anos atrás, e tornar visível toda a luta pela sua transformação num país melhor. E o texto de apresentação da obra refere "se isso acontecer a nossa tarefa está cumprida."

A Exposição está patente, até ao dia 24 de Junho, no Centro Português de Fotografia na cidade do Porto. Alguns exemplares estarão disponíveis na Bloom para que se levem para casa e com eles se escovem as raízes da memória.
Centro Português de Fotografia • Antigo Edifício da Cadeia da Relação • Campo Mártires da Pátria • 4050-368 Porto

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