Maior que o pensamento

1. Porque se fez o 25 de Abril?

Alertado pela possibilidade de um movimento conspirativo estar em curso na sua Região Militar, o general Moreira da Câmara interrompe abruptamente as suas férias estivais e regressa a Évora. A fuga de informação deve-se a uma improvidência do capitão Dinis de Almeida que, no decurso dos preparativos do evento, no intuito de adquirir carne a melhor preço, se dirige ao RAL 3 em Évora, dando a conhecer ao seu comandante, major Gaspar, que está a preparar uma «confraternização» de militares num monte situado a poucos quilómetros da cidade.
O sigilo fora, até então, a palavra de ordem. Apenas um grupo muito restrito tem conhecimento do local exacto do evento. Os contactos efectuados nos primeiros dias de Setembro em diferentes pontos do país garantiam a presença de, pelo menos, uma centena de oficiais que, segundo indicação recebida, deveriam acorrer a dois locais – o Templo de Diana e o campo de aviação de Évora – a fim de receber instruções e indicações mais precisas.
Ostensivamente camuflados sob óculos escuros e trajes civis, o general Moreira da Câmara e o brigadeiro Carrilho (segundo-comandante da RME), anotam as matrículas dos carros que acorrem ao largo do Templo de Diana. O capitão Vasco Lourenço, que afincadamente distribuía croquis com a localização do monte, aborda-os acintosamente convidando-os a participar no encontro. A iniciativa inviabiliza as intenções do general que, apanhado de surpresa, recusa o convite. A operação revela-se um sucesso e, em breve, o Monte Sobral será palco de um momento histórico. Esta reunião de 136 capitães, tenentes e alferes do Exército e da Força Aérea, realizada a 9 de Setembro de 1973, assinala, simbolicamente, o nascimento do Movimento dos Capitães e o início da conspiração. [...]

É assim por dentro esta nova edição sobre o 25 de Abril. O que levou a que naquele dia se libertasse todo um país e o seu regime estrangulado que dominava o país há mais de quatro décadas. É a história dos Capitães e todo seu movimento contado ao pormenor, os detalhes, as reuniões secretas no meio da noite, o levantar de uma voz. O grito final. O dia aberto, claro e sem nuvens. A tona da água e o seu transbordo.
Tratou-se de uma revolução em nome da liberdade? Existia um grau de politização entre os revoltosos? Até que ponto não foram as questões corporativas centrais na mobilização e primeiros passos do movimento dos Capitães?
Porque é que o primeiro presidente da República da transição foi António de Spínola e não Francisco da Costa Gomes como planeado pelos Capitães? Foram os partidos coagidos a assinar a Plataforma de Acordo Constitucional com o MFA? A 25 de Novembro os páras ocupam a base aérea de Tancos: houve ou não uma tentativa de golpe de Estado? Quais os seus autores? Quem deu a ordem de saída aos páras?

Passados mais de 30 anos sobre estes episódios, só agora se começam a revelar as verdades que permitem desmascarar os mitos que fazem parte da história do 25 de Abril. Neste livro, a historiadora Maria Inácia Rezola traz-nos uma visão geral da Revolução, analisando os seus episódios mais polémicos, sem medo de desconstruir mitos e ideias formadas sobre este episódio fundamental do século XX português.
É uma edição da Esfera dos Livros, agora que se dobram trinta e três anos sobre esse dia de viragem. As primeiras páginas podem ser encontradas aqui.

"25 de Abril - Mitos de uma Revolução" por Maria Inácia Rezola
Esfera dos Livros • Colecção: História Séc. XX • ISBN: 9789896260545

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