Gurrilla Girl

Estava escuro e eu estava à espera de alguém, na rua onde fica a minha casa. Um bairro com árvores e edíficios cúbicos, baixos. Quando digo escuro, a única coisa que se via era o meu isqueiro que estava aceso para iluminar uns papéis que tinha na mão. Um isqueiro ou uma luz a pilhas, daquelas de campismo. Já não me lembro. O que se ouvia era um pouco de frio húmido que passava e as minhas mãos a remexerem nos papéis. Que pareciam de rebuçado, mas não eram.
Pouco depois, do outro lado da rua, algures na escuridão, uma voz feminina, que trazia uma pistola e me queria matar. Falava com alguém ou sozinha. Parecia
que falava com o pai. E queria disparar para cima de mim. Do escuro, para a
minha presença iluminada por um isqueiro ou uma pilha feita de luz.
E disparou. Bang. Disparou seis vezes. E não acertou nenhuma. Porque eu me desviei. Ou porque talvez tivesse falta de pontaria.
E daí não sei bem, se me acertou. Se calhar acertou-me em cheio. Matou-me!
Só que eu ainda aqui estou, ainda consegui vir aqui contar a história, por isso talvez não esteja tão morto como isso. Talvez ainda esteja vivo e com coisas para fazer.
Lembro-me de a ouvir e a última coisa que ela disse foi: "Anda, este já está!"
Estava furiosa e queria matar todos os homens que se portam mal com as mulheres, pensei eu, mesmo assim pode ainda ter sido o que ela rugiu antes de desaparecer por completo. Era uma redentora, uma gurrilla girl. E eu conhecia-a de qualquer lado. A ideia da cara dela, no meio da escuridão, com aquela voz, não me era estranha. Ou mesmo o cheiro a molhado.
Não sei, posso estar errado.
[Escrito há muito tempo e encontrado aqui.]

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