Pramoedya Ananta Toer


Foi daqueles escritores que descobri por acaso e foi já há alguns anos. A vida a Oriente leva-nos à procura de novas referências, literárias também, mas não foi o caso. Encontrei-me com ele numa tarde (na altura recusava-me a viver de manhã) e ainda me lembro da estante onde estava, do espaço que ocupava. Levei-o para casa mas já lá não está. Um livro que se distingue mais pelo facto de as palavras poderem ser tanta dor, morte e prisão, e tanta liberdade e vida, do que propriamente pelo génio do autor.
Dele recordo que a vida sem escrita é igual a uma vida de fome, que a vida sem palavras num papel é a pior prisão de todas. Em Buru, havia proibições em relação à escrita. Mas nem isso o impediu de escrever. Lido e relido, passou para outras mãos, na altura presas, que os livros também são formas de abrir janelas. E foi assim que guardei o Solilóquio Mudo. Depois veio a Fabulosa Jacarta, noutro estilo, igualmente forte nas palavras. Esta semana encontrei numa outra estante A Rapariga de Java, com quem partilho o espaço.
Dizem há já alguns anos ser o mais forte candidato asiático ao Nobel. Nos últimos anos foi acusado de ter posições pouco lineares. Morreu no ano passado.
Há dias em que não quero mesmo saber da política que pode estar escondida nas palavras.

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