No reinado do terror

A extraordinária história do ditador soviético e dos homens e mulheres que o mantiveram no poder por quase trinta anos, numa obra vencedora do History Book of the Year Award, atribuído pela British Book Awards, em 2004.
Esta é a verdadeira história de Estaline, vista de dentro, cheia de revelações. Que nos relata como a morte da mulher do ditador foi disfarçada – terá sido suicídio? Ou como os líderes soviéticos e as suas famílias viveram dentro das paredes do Kremlin. Ou, ainda, o relato detalhado do encontro entre Estaline, Roosevelt e Churchill. E como de facto morreram dez milhões de pessoas.
Informações baseadas em novos materiais dos arquivos de Estaline, tornados públicos em 2000, em entrevistas com testemunhas e numa profunda pesquisa de Moscovo ao Mar Negro.

Mais que um monstro ou um louco, Estaline foi um homem comum, com as suas forças e fraquezas. É esse o enfoque de Estaline, A Corte do Czar Vermelho, do historiador britânico Simon Sebag Montefiore. O livro revela aspectos surpreendentes desta figura tão polémica quanto fascinante. Numa entrevista ao semanário português SOL, da qual transcrevemos uma pequena parte, o autor diz que o mundo está preparado para mergulhar na humanidade dos grandes ditadores do século XX:

À semelhança do que acontece em algumas obras recentes sobre Adolf
Hitler e Mao Tsé-Tung, o seu livro incide mais sobre o lado humano de Estaline em vez de, pura e simplesmente, retratá-lo como um monstro. Por que razão demorou a historiografia tanto tempo a humanizar os grandes ditadores do século XX?
Acho que isso demonstra uma maior sofisticação dos leitores. Na escola, diziam-nos que Estaline era um louco e um monstro. Na verdade, essas palavras não têm qualquer significado. As pessoas querem saber o que fazia esses sistemas funcionar, como esses homens realmente actuavam e como ascenderam ao poder. Mas, em relação a Estaline, até 1999, não havia acesso aos arquivos. Tive muita sorte em ter tropeçado nesses materiais: eram tão poderosos que me permitiram escrever, pela primeira vez, sobre o verdadeiro Estaline.

O seu livro não apresenta Estaline como um controlador isolado, mas como maestro de um sistema mais amplo. Essa percepção surpreendeu-o?
Acho que o livro o retrata como alguém que interferia em tudo e controlava em absoluto cada detalhe que considerasse político – da esfera militar à científica, passando pela literária. Mas, por outro lado, não era sempre a figura de medo que toda gente pensava. Um dos aspectos interessantes no livro é o de revelar que, até ao Grande Terror, as pessoas não tinham assim tanto medo dele, ou pelo menos não temiam pelas suas vidas. Quem o conhecia bem era muito informal com ele. O melhor exemplo deu-se em 1935, quando convidou o cunhado e a mulher para jantar. Eles esqueceram-se e chegaram com horas de atraso. Este é o tipo de facto que não podia ter constado de nenhuma biografia anterior, porque essas coisas não se sabiam. As antigas biografias repetiam uma e outra vez que Estaline era aterrador, um monstro. A vida é muito mais complexa do que isso. Ele ascendeu ao poder recorrendo ao charme e à capacidade de lidar com as pessoas, não ao medo. O medo veio depois.

Optou por iniciar o livro com o suicídio de Nádia, a segunda mulher de Estaline. Porquê?
Antes de mais, em termos dramáticos, é uma cena maravilhosa e era possível reconstituí-la em grande detalhe, porque tinha os materiais, pequenos relatos de muitas pessoas. O suicídio, o colapso de Estaline a seguir, a personalidade de Nádia, tudo isso é fascinante em termos pessoais. Em segundo lugar, é também uma forma arrebatadora de introduzir a descrição de como os líderes viviam todos juntos num pequeno círculo íntimo, virtualmente em cima uns dos outros, porta com porta, no mesmo edifício. Não acredito que o suicídio da mulher tenha tornado Estaline um monstro assassino, mas fez parte de algo muito mais importante. Naquela altura, uma série de coisas – a guerra com o campesinato, a traição de Estaline por muitos dos seus camaradas e o suicídio de Nádia – conjugou-se para fazer de 1932 um ano decisivo, em que Estaline decidiu que não podia confiar nas pessoas e que teria de matar muita gente.

À semelhança das personagens dos grandes romances, Estaline foi maior do que a vida, mas não pôde escapar aos afectos, desgostos e contradições que afligem o comum dos mortais. Mais uma personagem histórica revelada num extraordinário livro, de tirar o fôlego desde a primeira página, que pode encontrar entre as muitas vidas da Bloom.

Estaline, de Simon Sebag Montefiore Alethêia Editores • ISBN: 9896220247

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