Pega-me

O que dizer da obra de Gonçalo M. Tavares?
Podia falar-se que toda a sua carreira, a pouco e pouco, se foi tranformando num sepulcro onde a obra de outros autores se deitou. Ou um bairro onde se levantaram casas, construídas pela sua própria mão, tijolo a tijolo, que os escritores do mundo inteiro e de todas as eras distraídos começaram a habitar. Será Gonçalo M. Tavares apenas um veículo por onde as palavras dos outros passam? Será que ele existe? Alguém o viu verdadeiramente? Nós temos a certeza de nunca o termos visto. Mesmo em terras ermas como o Oriente nunca por cá foi encontrado.

Mas o que consta das páginas da História é que Gonçalo M. Tavares recebeu o Prémio Branquinho da Fonseca da Fundação Calouste Gulbenkian e do jornal Expresso, com a obra O Senhor Valéry (Caminho), o Prémio Revelação de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores, com Investigações. Novalis. (Difel) e o Prémio Prémio José Saramago 2005 e Prémio Ler/Millenium-BCP com Jerusalém (Campo dasLetras).
E dizem dele: “Gonçalo Tavares representa um novo paradigma na literatura portuguesa: um autor cerebral, preocupado com o método e com a lógica literária do jogo, um escritor com preparação filosófica, notória em aforismos e frases por vezes brilhantes.”
[Pedro Mexia, Diário de Notícias, Março 2003]

"A aparição de Gonçalo M. Tavares no panorama literário português, há pouco mais de um ano, foi no mínimo invulgar, para não dizer atípica. Em vez de apresentar o tradicional primeiro livro, este autor surgiu de repente com uma estruturadíssima série de obras (escritas ao longo de dez anos) e que foi publicando, com um intervalo de poucos meses, em editoras de cariz diverso.”

[José Mário Silva, DN, 10 Julho 2003]

Poderá dizer-se isto de alguém que não existe? Achamos que não, mas como o mundo é feito todo ele de ficção e de ironia temos cá as nossas dúvidas. Falemos então do que aqui nos traz.
A Biblioteca, obra em que o ponto de partida é a escrita dos autores e nunca a ilação de um facto das suas vidas. Parte do eco da leitura, de uma palavra que salta fora das outras e daí em associações livres desprendidas de qualquer conceito o texto vai ganhando a sua forma. Trata-se de um livro em que variados escritores dão a mão à pena amiga e alheia de outro criador tornando-se o foco da sua inspiração que de maneira sepulcral se põem a cantar as suas dores e a abrir as portas das suas habitações no Bairro M. Tavares.
É notória a influência de cada um nas palavras que correm da imaginação deste premiado escritor português, note-se o exemplo de Malcom Lowry, que diz assim:

Se quiseres permanecer debaixo de uma árvore não necessitas de passaporte.
Se quiseres permanecer fiel à tua mulher não precisas de uma amante.
Nenhum bêbado "desde o início do mundo" urinou sozinho. Um bêbado urina sempre com companhia (nem que seja de uma canção).
"[Biblioteca] é uma anotação do leitor que tanto viveu por dentro dos livros, que escreveu os seus braços com frases e os seus corpos invisíveis na sua própria língua. Como uma recordação que forma um ser, depois da morte, e é a sua única realidade. Escritores, livros, todos vivem não dos seus mesmos excertos, mas do que os seus livros fizeram num leitor que viveu neles e os escreveu na sua própria língua e na sua mesma realidade"
[Pedro Sena-Lino, Público, Jan 2005]

Biblioteca de Gonçalo M. Tavares • CAMPO DAS LETRAS • ISBN: 9726107997

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