Como facilmente se poderá imaginar, depois de uma viagem de um mês em direcção a uma terra sobre a qual nada sabia e onde teria de ir viver, a minha mais urgente preocupação, lógica para um jovem de vinte e três anos naquela situação era se haveria raparigas. Assim, a primeira coisa que fiz após a minha chegada a Macau foi correr para a Messe de Sargentos, tirar a farda, vestir-me à paisana e sair para a rua numa missão de prospecção. Deparei logo a atravessar a rua na Praia Grande com uma jovem extremamente elegante com uma cintura incrivelmente fininha uma saia branca que lhe dava pelo joelho e uma blusa vermelha. Eu fiquei a vê-la afastar-se e pensei cá para mim - Bem... Não estamos mal.
Cerca de uma semana depois, ia eu na rua com um colega meu, sargento, quando passamos diante de um café e sentadas numa mesa estavam duas jovens. O meu companheiro cumprimentou uma das jovens e a outra era aquela que eu havia visto a atravessasr a rua quando cheguei. Então perguntei ao meu amigo se a conhecia e ele disse-me que sim porque aquela rapariga era amiga da sua namorada. Perguntei-lhe pois se me podia apresentá-la. Ele respondeu que sim e voltámos para trás até ao tal café. Daí resultou que fiquei a conhecer a tal moça que eu vira pela primeira vez ao chegar a Macau e daí resultou também que me apaixonei por ela, começámos a namorar e acabámos por ir viver juntos.
Como é natural ela acabou por engravidar e eu quis casar com ela mas não me foi permitido pela tropa que só me permitia o casamento se tivesse vinte e cinco anos. E assim nasceu o nosso primeiro filho que só pode ser registado como nosso filho quando nos casámos pela Igreja dois anos depois.
Mas, entretanto, muita coisa se tinha passado. Veio a Macau o Primeiro-ministro, Sarmento Rodrigues, fazer uma visita e trouxe com ele o produtor Ricardo Malheiros e um operador de câmara para documentar essa viagem. Quando o Ricardo Malheiros me encontrou ficou muito surpreendido. Ele conhecia-me dos tempos da Cinelândia onde assistira a várias demonstrações promocionais feitas por mim. Então teve a ideia de ir pedir ao Comandante Militar que me dispensasse dos meus serviços na secretaria do Quartel General, onde fora colocado, para ir trabalhar com ele nuns quantos trabalhos documenmtais a que estava entregue.
Assim foi. Fiz um documentário sobre os Correios de Macau, onde também na altura fiz um grande amigo que era funcionário daquela organização - o Rui Senna Fernandes.
Também fiz um outro documentário inesquecível sobre o enterro do pai do Ho In, um milionário associado do Dr. Pedro Lobo que naquela altura era talvez o homem mais poderoso de Macau.
Aquele desfile prolongou-se por horas na Almeida Ribeiro. Incorporou quase todas as bandas chinesas do território e até talvez da China e de Hong Kong. Só carpideiras desfilaram perto de quatrocentas. Ao longo da Avenida homens em bicicletas andavam para trás e para diante distribuindo lai sis, isto é, pequenos envelopes vermelhos com dinheiro. O caixão transportado por mais de vinte homens era um monumento em madeira trabalhada com quase dois andares de altura
E com tudo isto tive de ir frequentemente a Hong Kong para revelar os filmes fazer as cópias de montagem, sonorizar e finalmene fazer as cópias finais, Hong Kong tinha uma indústria de produção de filmes próspera e activa e, Macau... NADA.
Os Estúdios dos SHAW BROTHERS produziam um filme de vinte em vinte dias que estreavam em Hong Kong, nos seus cinemas de Singapura e nos cinemas do Brasil dedicados às comunidades chinesas. Os WADER STUDIOS também tinham uma produção regular de filmes de Karaté e não só. Havia ainda vários estúdios de som e salas de montagem disponíveis.
E MACAU... NADA.
Eu dizia muitas vezes porque é que Macau pode ser uma LAS VEGAS e não uma HOLLYWOOD?
A ilha da Taipa era um descampado e eu sonhava que ali poderiam ser construídos grandes estúdios capazes de dar grandes contributos para a cinematografia chinesa e até talvez, também, para a cinematografia Macaense.
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