Instalado no Hotel Fairmont, mesmo em frente do Palácio Imperial, um Hotel de grande luxo que até tinha uma piscina interior e uma janela nos quartos por onde se podia sair para um pequeno jardim privativo, senti necessidade de sair e ir conhecer um pouco de Tóquio e assim fui até um cabaret onde havia música e se dançava. Era um salão enorme com uma pista de dança e várias mesas à volta. Uma das paredes era toda de vidro com a altura de dois andares e no meio uma varanda. Ao nível do chão havia uma fila de cadeiras com um número e na varanda a mesma coisa. Em cada cadeira uma rapariga sentada, a maior parte delas de perna cruzada, mas todas belas e bem arranjadas. Em cada mesa havia um candeeiro com um abat-jour e com umas pedrinhas vermelhas a toda a volta. Quando se carregava num botão ao lado do candeeiro as pedrinhas vermelhas iluminavam-se e um criado solícito ocorria prontamente. Então dizíamos o que queríamos beber e qual o número da cadeira onde estava sentada a jovem cuja companhia solicitávamos.
Eu escolhi a número 23 que, depois vim a descobrir, era uma jovem extremamente simpática e que falava um inglês irrepreensível. Ficámos amigos instantaneamente e ela contou-me coisas da vida dela e eu da minha.
Tarde na noite, quando também já tínhamos bebido um pouco, convidei-a para vir até ao meu quarto no Hotel e ela aceitou. Quando entrámos no quarto o telefone tocou e ela atendeu. Ouviu atentamente e depois disse-me - Desculpa mas tenho de ir embora. Falavam da portaria a dizer que eu não podia ficar aqui no quarto contigo.
Saí disparado do quarto e fui direito à recepção para perguntar - O que passa?
Então o funcionário explicou - O senhor compreende. Isto é um hotel de luxo e não fica bem o senhor trazer uma rapariga de fora para o seu quarto...
Eu retorqui - Essa é boa!... No meu país quando alguém aluga um quarto num Hotel de luxo, como o senhor diz, o quarto está ao seu serviço e quando muito o que lhe podem dizer é que terá de pagar mais pela utilização do quarto por mais uma pessoa.
O funcionário da recepção então perguntou-me - De que país é o senhor?
E quando eu lhe disse que era português mudou imediatamente de atitude e pediu-me imensas desculpas e que a minha companheira podia ficar à vontade.
Fiquei impressionado com esta brusca mudança e mais tarde perguntei à minha amiga que se chamava Machico Nakamura, se ela percebia a razão desta atitude.
Então ela explicou-me - Sabes... desde criança nas escolas, nós no Japão aprendemos a história do nosso País. E ficamos a saber que o Japão noutros tempos tinha vários clãs que se combatiam para tentarem dominar os outros, criar uma unidade e formar um Império. Os samurais batiam-se desesperadamente mas não havia vitoriosos. Até que um desses clãs conseguiu dominar todos os outros e formar o tal Império a que se chamaria Japão. A razão da sua vitória sobre todos os outros ficou a dever-se, segundo reza a história, a uma nova arma poderosa que levou todos de vencida. A espingarda. E, acontece que essa arma se ficou a dever a um português que foi quem a deu ao chefe de um dos clãs.
Portanto, a formação do Japão ficou a dever-se à ajuda dos portugueses, que ficaram assim ligados à sua origem.
Além disso um dos clássicos catedráticos da cultura japonesa, um homem que sabia até cinco mil sinais da escrita japonesa, quando saber três mil sinais já é considerado um mestre universitário, foi Wensceslau de Morais, Cônsul de Portugal no Japão, que adoptou a cultura japonesa de tal forma que se tornou num mestre naquele País.
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