As Minhas Memórias (15)

Durante este período de dois anos como militar em Macau, fiz vários amigos, como um cabo africano de Moçambique da guarnição das Portas do Cerco e que era filho de um régulo e o Director do Centro de Informação e Turismo que era o Silveira Machado. O Silveira Machado era também uma espécie de secretário do Dr. Pedro Lobo e tinha o seu escritório no Palácio do Governo logo à direita quando se subia a escadaria da entrada. Eu visitava-o frequentemente e tínhamos profundas conversas sobre a questão do cinema em Macau, do nosso atraso e como desta forma não daríamos contributos culturais tão proveitosos como poderíamos dar com essa forma de linguagem de massas. Havia tantas histórias interessantes a contar ao mundo, como a da luta dos nossos navegadores em favor de uma China rica e imensa. Como a história da resistência de Macau, a cobiça dos Holandeses. Enfim, como a história de Macau como local de refúgio durante a guerra do Japão.

Disto tudo resultou que o Silveira Machado conseguiu o apoio financeiro do Dr. Pedro Lobo e formámos uma Sociedade chamada EURÁSIA FILMES da qual eram sócios além do Silveira Machado e eu próprio, o Professor Serra e o Comandante Dias da Silva, oficial da marinha responsável pelas lanchas da Polícia Marítima. O primeiro objectivo era fazer um primeiro filme de longa-metragem que pusesse Macau no mapa da cinematografia e pudesse futuramente servir de base para o estabelecimento da produção cinematográfica de Macau.
O Professor Serra forneceu a história e eu forneci o script e a direcção do filme. Fui a Hong Kong buscar o operador de câmara , o Albert Young, com a sua Arri de trinta e cinco milímetros, e os actores consagrados Wong How, Chung Ching e Lola Young. Em Macau escolhemos o António Pedro para fazer o papel do Inspector da Judiciária que era um dos personagens da história e a Irene Matos que fazia o papel da filha do casal de refugiados de Xangai com que começava o filme a bordo do Tak San com um monte de refugiados de Xangai a caminho do seu refúgio em Macau.

Desta forma arrancou a produção do primeiro filme jamais rodado em Macau - CAMINHOS LONGOS. Na realidade bem mais longos do que jamais supusera.

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