A minha passagem pelo Liceu, no entanto, deixou-me algumas recordações que ainda hoje me fazem vibrar. Eu era um admirador fanático das aventuras do Tin-Tin, bem como dos desenhos animados do Walt Disney. E assim, com o meu gosto pelo desenho e a bonecada, criei no Liceu um Jornal de Parede. Também criei uma personagem muito minha e numa folha de papel de cenário, com uns sessenta centímetros por um metro, durante a semana, ia contando uma história em banda desenhada que afixava no átrio do recreio às Sextas-feiras à noite para no dia seguinte, Sábado, quando os meus colegas chegavam para a reunião da Mocidade Portuguesa, poderem ver as aventuras dos meus heróis. E uma coisa que me dava um gozo extremo era vê-los, amontoados em frente ao meu jornal de parede, rindo e comentando essas aventuras.
Também passei por algumas experiências que não posso esquecer.
Tínhamos então aulas de Canto Coral, Educação Moral e Cívica, Trabalhos Manuais, Ginástica e Teatro.
Todos os anos os alunos do Primeiro Ciclo apresentavam uma peça de teatro por si concebida e encenada. Eu pintava os cenários.
Nas Aulas de Educação Moral e Cívica, dadas pelo Monsenhor Fino Beja, ouviamos a narrativa detalhada da vida de Cristo. Um dia em que o Monsenhor Fino Beja narrava a passagem do milagre das Bodas de Cana a certa altura disse - E os meninos vejam, Cristo tinha transformado a água em vinho...
O Saldanha, um colega meu que era neto do Marechal Saldanha, levantou-se e disse - O Senhor professor dá licença?... O Monsenhor respondeu-lhe - O que é meu filho?
E então o Saldanha declarou - Eu já vi fazer isso no Coliseu...
Foi uma bomba. A classe explodiu numa gargalhada e o Monsenhor ia tendo um ataque.
As aulas seguintes foram integralmente dedicadas à explicação da diferença entre um milagre e um passse de mágica. Mas o Saldanha não se deixava convencer e entre outras coisas afirmava - Mas nesse tempo as pessoas eram muito ingénuas. Se aparecesse o David Coperfield naquela altura todos iam dizer que era um enviado de Deus na Terra.
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