Como toda a gente comecei por nascer.
Pois... mas, como muita gente, nasci em Lisboa, capital de Portugal, na freguesia dos Anjos.
Também, como muita gente, tive uma infância normal para a época. Filho de um pai técnico de perfumaria e de uma funcionária da Secção de Concursos dos Correios Telégrafos e Telefones, o que mais recordo desses tempos, foram as grandes tareias que apanhei da minha mãe que por vezes com ataques de fúria me batia com o cinturão de cabedal do meu pai e me deixava marcado com vergões vermelhos nas costas e nos braços.
Confesso contudo que por vezes esses castigos eram bem merecidos e talvez tenham até contribuido para me tornar mais rijo, o que me veio a ser muito útil para encarar as agruras que sofri perla vida fora. Pois, se de certa vez até fui enfiar um fio eléctrico nos dois polos de uma ficha no escritório do meu pai o que provocou um curto circuito e rebentou com um estrondo os fusiveis da casa, pode-se calcular a fúria da minha mãe que estava na cozinha e apanhou um valente susto. E eu uma valente tareia.
Muito mais tarde, já no Liceu Pedro Nunes, um dos poucos, senão o único, que admitia estudantes de ambos os sexos, e que tomei consciência de quanto gostava de fazer desnehos e criar bonecos, em parte graças à influência e estímulo da minha professora de desenho a D. Maria José Estanco.
Não gostaria de me alongar excessivamente sobre as minhas recordações de infância, porque retratam a vida noutros tempos muito pouco compreensíveis nos nossos dias de hoje. Por exemplo, na Escola Académica onde fiz a instrução primária, eramos castigados com a menina de cinco olhos, uma régua constituída por uma roda de madeira grossa com uns quinze centímetros de diametro e um cabo. A roda tinha cinco furos, por isso, a menina dos cinco olhos. Quando fazíamos asneira, eramos intimados a estender o braço com a palma da mão virada para cima e o castigador descarregava com toda a força a menina dos cinco olhos na palma da mão. A verdade é que a mão ficava vermelha e a latejar por bastante tempo, para nos recordar da maldade que haviamos feito. E, a Escola Académica era dirigida por padres católicos.
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