Entrei pois ao serviço como controlador da Aeronáutica Civil no Aeroporto de Lourenço Marques. Tínhamos um horário variável pois eramos escalados em conformidade com uma escala rotativa. Tambem eramos escalados para fazer serviço nocturno no Centro de Informação de Voo. Entrávamos neste serviço à meia noite e saímos às nove da manhã. Este serviço era pago como horas extraordinárias para além do nosso vencimento mensal. O Serviço de Informação de Voo consiste num serviço desempenhado por radiotelegrafistas que prestam informações vinte e quatro horas por dia às aeronaves que voam no espaço aéreo não controlado.
Assim têm informações sobre todas as aeronaves: a sua altitude, a sua rota e destino, a sua velocidade e quanto mais. Segundo as regras cada aeronave que voa num determinado quadrante tem de voar em níveis pares de altitude: dois mil pés, quatro mil, seis mil e assim por aí fora. As que voam num quadrante oposto de cento e oitenta graus têm de voar em níveis ímpares: mil pés, três mil, cinco mil e assim por diante. Mas quando uma aeronave que vem para cá a seis mil pés, quer descer para quatro mil, tem de atravessar os cinco mil pés que é o nível das aeronaves que vão para lá. E portanto precisa de saber se é seguro fazer essa mudança de nível. Aí entra em funções o Serviço de Informação de Voo.
Ora os controladores que prestavam serviço de informação de voo ficavam uma noite inteira sentados diante de um aparelho com um altifalante e um microfone. Quando alguma aeronave chamava Lourenço Marques o Controlador respondia e prestava toos os esclarecimentos necessários. Este serviço era chefiado por um radiotelegrafista mal encarado e perseguidor, que já tinha instaurado muitos processos disciplinares aos radiotelegrafistas seus subordinados e que não gostava nada da participação dos Controladores. Muitas vezes, com a fadiga das horas espectantes toda a noite, eu fechava os olhos e descansava embora estivesse atento a qualquer chamada pela rádio.
Então o Senhor Alturas apanhou-me numa dessas noites fatigantes e tirou-me uma fotografia comigo sentado na minha cadeira de olhos fechados e cabeça baixa.
Depois serviu-se dessa fotografia para me denunciar ao Director da Aeronáutica, o Comandante Barata, pedindo-lhe que me fosse imposto um processo disciplinar.
Fui chamado e acusado. Respondi no meu depoimento em primeiro lugar que pelo facto de estar de olhos fechados não significava que estivesse a dormir e portanto podia estar, como realmente estava atento a qualquer chamada. E, para além disso, eu não podia ser escalado para prestar serviço no Centro de Informação de Voo, porque o Estatuto do Funcionalismo Ultramarino a que todos estávamos obrigados, dizia claramente que um funcionário admitido para um determinado Serviço não podia ser chamado a prestar serviço noutra função. Sendo eu portanto, Controlador, não podia ser escalado para prestar funções noutro serviço. E assim foi. Os controladores deixaram de fazer informação de voo e muitos ficaram chateados comigo porque perderam assim as tais horas extraordinárias que vinham recebendo (indevidamente a meu ver).
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Votos de felicidades e espero voltar a ver coisas tuas em breve. Um abração do sempre amigo Gomes Pereira.
Querido Gomes Pereira quero que saibas que a tua mensagem me fez chorar de emoção.
Um grande e terno abraço dêste teu amigo que te não esquece.
Eurico