Estar num espaço público traz sempre histórias vindas da rua, esta é uma delas.
Entrou uma rapariga chinesa com um telefone na mão. Só falava chinês. Era gira. Eu disse-lhe que não falava chinês. Mas ela insistiu e passou-me o telefone para a mão. Queria que eu lhe traduzisse uma mensagem que tinha recebido e que estava em inglês.
Lá tentei. Eu sei que devia falar melhor chinês mas não sei falar lá muito bem. Sei alguma coisa. Às vezes dá para desenrascar.
Disse-lhe: "Ngo iu lei", eu quero-te, "tóti", muito. Não era bem o que estava lá escrito, dizia "I miss you baby, but now I have to sleep a little, sorry...". Dormir diz-se "fang au", "siu siu" é um pouco.
E ela repetiu correctamente o que eu lhe tinha dito e perguntou se era isso. Tipo: "Queres-me muito, tens muitas saudades minhas, mas agora tens de ir dormir um bocadinho, depois vens ter comigo, não é?". Eu disse que sim, porque me pareceu que fosse mesmo isso. Ela sorriu, disse "mkoi sai" (obrigado) e foi-se embora.
Deixou o perfume pelo ar que logo fugiu para dentro dos livros para lhes roubar as histórias. Eles sorriram também.
Eram 4 da tarde, já não eram horas de se estar a dormir.
2 Comments:
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- Frances said...
10 August, 2007 17:18se todas as traduçoes fossem assim feitas, era tudo mais simples, sobretudo quando falamos na mesma lingua e nao nos entendemos.- ring said...
10 August, 2007 21:12O tradutor é aquele que vive por dentro dos outros sem ser notado.