Ma man!

PAUL KLEE KOPF EINES MANNES (WIRD SENIL) 1922
O diálogo com a natureza é condição sine qua non para o artista. O artista é um ser humano, é natureza e uma parte da natureza no espaço da natureza.
O número e o tipo de caminhos a percorrer, tanto na produção artística como no mundo da natureza que lhe está associado, mudam apenas com a atitude do ser humano no que se refere ao seu raio de alcance por dentro deste espaço.
Os caminhos muitas vezes parecem novos, talvez sem, no fundo, o serem. Apenas a sua combinação é nova; verdadeiramente novos, eles são-no quanto comparados com o número e o tipo de caminhos de ontem.
Mas, ser novo em relação a ontem é ainda assim uma característica revolucionária, ainda que isso não chegue para abalar o grande mundo do passado. Por isso, a alegria trazida por essa novidade não precisa de ser diminuída; a vasta memória histórica apenas deve servir para evitar que procuremos à viva força uma novidade à custa da expressão natural.
Esta antologia de textos teóricos publicados em vida de Paul Klee (1879-1940) reúne, para além de ensaios e conferências, os célebres Esquissos Pedagógicos, um dos mais significativos conjuntos de reflexões e desenhos do século XX, que revelam os caminhos da criação num dos pintores maiores desse século.
O conjunto de textos teóricos aqui reunidos responde a perguntas como: Qual a função da pintura moderna? Que relações estabelece com a música, a poesia, as matemáticas, a biologia? Como se pode compreender o poder da linha, do espaço, da forma e da cor? De que modo tudo isso dá expressão a uma consciência nova de nós próprios e do universo?
A arte não é uma ciência que seja fomentada progressivamente através de muito trabalho e da investigação de muitos membros; pelo contrário, é o mundo da diversidade. Cada personalidade, que dispõe da sua própria forma de expressão, tem aqui o seu valor. Só os fracos, aqueles que em lugar de procurarem em si próprios, procuram naquilo que já existe, devem desistir.
Vivi sempre com Paul Klee em casa, nas paredes, nos desenhos que toda a família fazia pelos murais interiores do nosso apartamento. Chamavamos-lhes os sonhos de Paul Klee. A minha mãe ficava com os cabelos em pé, mas quando dizíamos que tinha sido o Paul Klee a fazer, ela lá se acalmava. Foi o nosso avô que nos trouxe essa mania.
Quando mudámos de casa, ainda quisemos levar toda a parede. O meu irmão, à semelhança do que fizeram mais tarde com o Muro de Berlim e com os despojos do 11 de Setembro, ainda conseguiu, a muito custo, com um escopro e um martelo, saquear alguns decímetros cúbicos de tijolo e argamassa, com a superfície lisa do seu primeiro sonho de Klee, a cabeça do terrível fantasma do homem que decidiu ficar senil, só porque não tinha mais nada para fazer.
Mais tarde, o novo dono da casa usou o buraco na parede para embutir um cofre para os seus valores de maior estima. E nós, quando soubemos disso, fartámo-nos de rir.

Escritos Sobre Arte • Paul KleeEDIÇÕES COTOVIA

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