Posso dizer que foi uma surpresa a reacção do pessoal do Instituto. Revoltaram-se e obrigaram o Ministro a vir a uma reunião com todos em que pediam explicações para a minha demissão.
O curioso é que começaram por pôr um gravador em cima da secretária do Ministro que perguntou: - Para que é isto? - Então um dos trabalhadores explicou: - Bem, desta reunião muito possivelmente o Senhor Ministro irá ditar normas de conduta e possivelmente conselhos que nós depois gostaríamos de ter uma gravação para estudarmos aquilo que nos foi dito.
E o Ministro disse: - Está bem. E nessa mesma noite estava um grupo de trabalhadores em minha casa com um gravador e a fita para eu ouvir tudo o que tinha sido dito.
Uma das coisas que recordo é a certa altura o Senhor Ministro dizer: - Mas o que é que vocês querem? Que vá pedir ao Senhor Ferreira para ele voltar por favor ?
A partir dessa altura afastei-me do Instituto e de tudo o que a ele estava ligado e passado algum tempo, por insistência de um amigo cineasta, o Lopes Barbosa, que se fora embora e vivia no Porto, deu-me na cabeça, meti-me num avião e parti sozinho para o Porto, ficando em casa do Lopes Barbosa e começando a trabalhar como operador de câmara na Agência de Publicidade onde ele trabalhava e que pertencia ao Senhor Sério Fernandes.
Aí, a certa altura, apareceu uma encomenda de uma filmagem de uma fábrica de roupas para criança. O dono da fábrica pretendia algumas imagens da fábrica para mostrar a possíveis clientes e pediu que fizéssemos as filmagens que quisessemos e ele depois escolheria aquelas com que queria ficar e pagaria essas filmagens.
Eu fui e filmei a fábrica toda. Era fascinante, porque a maior parte das operações eram feitas por robots e máquinas automáticas que cortavam o pano, cosiam, pregavam os botões, abriam as casas e enfim faziam com rigor todas as operações de fabrico. As operárias eram só para prestar assistência às máquinas e vigiá-las.
Combinámos com um cinema de manhã para projectar o material e o dono da fábrica de confecções ficou com tudo. Pagou integralmente todo o material que havíamos filmado e que eu montara numa sequência lógica. O Senhor Sério Fernandes fez um excelente negócio mas não quis participar comigo para além do meu ordenado . E eu resolvi que era a altura de voltar para Lisboa. A minha mulher entretanto tinha-se vindo juntar a mim e em Lisboa fomos viver para casa do Isaías Duarte, que tinha uma magnifica vivenda com piscina em Cascais e um filho pequeno de quem a minha mulher ajudava a tomar conta.
O Isaías tinha uma empresa em Lisboa para onde fui trabalhar para o ajudar e nessa altura reencontrei o Manuel Figueiredo, que também tinha uma Agência de Publicidade - A Agência Europa - e que eu já conhecia de Moçambique onde tinha tido a Agência África e para a qual tinha produzido imensos filmes.
O Manuel Figueiredo tinha um armazém onde guardava inúmeras garrafas de vinho produto de um negócio anterior que ele abandonara.
Fizemos uma sociedade produtora de filmes, a QUINECOR *, despachámos as garrafas de vinho e utilizámos o armazém que ficava numa cave em Lisboa para montar um estúdio.
Enquanto durou fiz inúmeros filmes para cinema e para a televisão ao serviço da Agência Europa de Publicidade. Até que um dia a Agência Europa do Manuel Figueiredo entrou em conflito com as finanças e foi alvo de uma penhora em que entrou também a Quinecor. Então fiz uma proposta que foi aceite cpagava às finanças o valor da quota dele que tinha sido penhorada e ele vendia a sua quota parte da Quinecor à minha mulher que assim passava a ser a minha sócia naquela empresa.
E foi o que aconteceu.
* QUINECOR porque não me deixaram registar o nome com K, da palavra grega Kine, a origem etimológica de Cinema.
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