As Minhas Memórias (26)

Nesta viagem de Macau para Lourenço Marques, contudo, recordo que houve alguns aspectos curiosos que não posso deixar de descrever. O barco ia quase na sua totalidade repleto de japoneses. Depois vim a saber, pelas conversas que tive principalmente com um dos passageiros, que falava muito bem inglês, que uma aldeia de agricultores japoneses estava a ser integralmente transferida para o Brasil.
Assim, no Brasil haviam construído uma aldeia em tudo semelhante à que existia no Japão e toda a população iria ocupar os mesmos locais de que já dispunha nas origens. Por exemplo, este meu novo amigo japonês no Japão era funcionário bancário. No Brasil ia ser igualmente funcionário bancário com os mesmos clientes e vizinhos que já tinha na sua terra. A única diferença estava em que as propriedades agrícolas que possuíam no Japão agora no Brasil seriam muito maiores.
Como se pode calcular toda esta gente estava muito interessada em aprender português e como seria natural pediam-me que os ajudasse com umas lições sobre a nossa língua. Foi a minha principal ocupação durante toda a viagem, para além de eu e minha mulher termos passado grande parte do nosso tempo também a contar e a vigiar os nossos filhos que por serem tão irrequietos se perdiam em brincadeiras e correrias no tombadilho de onde facilmente se poderia cair ao mar.
Também para recordar foi o facto que perto de Madagáscar termos apanhado com aquuilo a que se chama o rabo de um tufão, que nos fez a todos andar aos tombos dentro do navio para além dos inevitáveis ataques de enjôo.
E assim chegámos a Lourenço Marques, onde a minha primeira preocupação foi apresentar-me ao serviço e tratar de arranjar uma casa para nós vivermos.
A minha primeira impressão foi a de que se tratava de uma terra ampla, com avenidas largas, limpa e ordenada, com um amplo parque central, ajardinado cercado de lojas bem arranjadas e ao fundo um edifício todo em pedra esculpida, que era a Câmara Municipal.
Contudo, quando cheguei ainda não havia aqueles prédios de vinte andares, característicos da futura Lourenço Marques, pois que o prédio mais alto naquela altura era o prédio Cardiga que só tinha seis andares.
Mas havia o café Continental numa esquina da Baixa, para além de muitas outras coisas, como o Cinema Scala, mesmo em frente. Mas aquele café fazia-me recordar Lisboa.

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