Song of the South
Li Yi (748-829)
How many times
I have been let down
by this busy
merchant of Qutang
since I married him
The tide always keeps its
word
to come.
Had I known that,
I would have married a young
tide-rider.
in "100 Poems from Tang and Song Dynasties"
Don't be discouraged by the rainy days. It's really worth the visit if you happen to be in Sydney.
It's a free exhibition of Yann Arthus-Bertrands amazing photographs, in a beautiful display in Darling Harbour's gardens.The photos capture both human and natural scenarios, all from above.
It makes you think how much Man can change his surroundings and how beautiful is our wild Planet Earth.
Hopefully, it will inspire all to be more conscious about what can we do to save the Earth!
Bookmarkers: English, Exhibitions, Taste it, Travel
An internationally acclaimed outdoor photography exhibition, Earth from Above: an aerial portrait of our planet towards sustainable development by Yann Arthus-Bertrand, has opened in Darling Harbour, Sydney, Australia.
The free open air exhibition captures the beauty of the earth through 120 stunning large-scale photographs featuring landscapes and people from an aerial perspective. The breathtaking images (1.8m x 1.2m) are taken by celebrated award-winning French photographer Yann Arthus-Bertrand, who undertook the ambitious project to visually record the state of the planet at the start of the new millennium.
Darling Harbour has been transformed into an outdoor gallery, open 24 hours a day, 7 days a week, for six months. It closes on Boxing Day.
Since the exhibition first opened in Paris in 2000, more than 50 million people in over 100 cities have been inspired by this global phenomenon. The photographs were taken in 58 countries, and include five striking images of Australia.
Earth from Above is not just a stunning display of photographs, but a penetrating report on the state of the planet. Each image is accompanied by hard-hitting narrative highlighting the environmental issues affecting each location. The underpinning theme of Earth from Above is sustainable development and the pressing need to adopt more sustainable practices throughout the world.
Photographer Yann Arthus-Bertrand said, “This work has truly changed my life. You cannot spend 10 years flying over the earth and remain unchanged. I have realised that man is an integral part of nature, inseparable from the landscape, and that we are all responsible for the future of the planet.”
Earth from Above Project Director Jane Hoiting said, “Earth from Above offers a truly unique and breathtaking view of the world we live in. By presenting the earth's beauty through these images, it challenges us to think about our own footprint on earth.”
“Earth from Above has something for everyone: it's entertaining, educational, inspiring and it's free. It's a wonderful attraction for Sydney-siders and visitors to enjoy over the school holidays - and the next six months.”
The exhibition is being presented in Australia by Global Nomad under the auspices of Nomad Exhibitions Ltd, a not-for-profit organisation whose remit is to present this free exhibition to as many Australians as possible.
Earth from Above is a carbon-neutral exhibition, with Easy Being Green the carbon offset sponsor. The Sydney exhibition is supported by Sydney Harbour Foreshore Authority, Intrepid Travel and Whereis. As manager of Darling Harbour, Sydney Harbour Foreshore Authority is committed to making the precinct a sustainable place that offers a diversity of experiences for visitors to enjoy including exhibitions like Earth from Above.
The Earth from Above project is presented with the patronage of UNESCO and the support of Fujifilm, Air France and Eurocopter.
Bookmarkers: English, Exhibitions, Mundo / World, Taste it, Travel, Vision
POST SCRIPT 3
Entre as diversas experiências que vivi no tempo em que, em Moçambique, tive a FILMLAB, a minha empresa produtora, foi a minha aproximação com a África do Sul, os laboratórios de Kilarney e as possibilidades infinitas de aprendizagem. Ao contrário do que se pensa no mundo exterior em geral, Joanesburgo era uma cidade extremamente desenvolvida, rica, moderna e muito avançada. Foi aí que aprendi os segredos da "publicidade subliminar" e onde adquiri vários livros sobre a matéria.
A publicidade subliminar é uma questão tão subtil e poderosa, que de uma forma geral é muito mal entendida e contudo regula muito do que se passa á nossa volta.
Apenas para exemplo, vou relatar uma das acções e seus resultados.
Durante muitos anos o GIN GORDON tentou implantar-se na América sem contudo nunca conseguir abrir esse mercado porque os americanos tinham a sua preferência pelo whisky.
Acontece que existem quatro agências de publicidade nos estados Unidos e duas no Canadá que se dedicam à publicidade subliminar e a certa altura o Gin Gordon recorreu-se dessas agências para que planeassem uma campanha capaz de alterar as circunstâncias e levassem os americanos a consumir Gin.
Feito o acordo com uma dessas agências, foi publicada na revista TIMES, uma das revistas de maior circulação nos estados Unidos, um anúncio de uma página inteira com uma simples fotografia de uma garrafa de Gin Gordon, com um rótulo colorido e no alto dessa página apenas a marca do Gin.
Os resultados foram tão bons que um mês depois a Times voltou a publicar o mesmo anúncio, o que não é nada barato.
O facto é que o gin foi introduzido na América.
Qual foi o segredo?
Para quem tivesse conhecimentos suficientes e soubesse dos princípios em que se baseia a publicidade subliminar, poderia analisar o anúncio que foi publicado na Times e descobriria que no rótulo a cores, embebida na imagem do rótulo que era parte bem visível do anúncio, estava uma outra imagem que representava um homem dominante abraçando e beijando uma mulher.
Teria de me estender extensivamente para explicar como nasceu a publicidade subliminar, como se desenvolveu e aperfeiçoou e como ainda hoje é extensivamente utilizada.
Basta dizer que a maior parte das grandes marcas a que damos a nossa preferência se serviram desse tipo de publicidade e até o actor Ronald Reagan chegou a Presidente dos Estados Unidos graças à sua inteligente utilização.
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Tango is good for English, Portuguese, Italian, German, French, Spanish...
τανγκό, in Greek
탱고, in Korean
探戈, in Chinese
تنغو , in Arabic
タンゴ, in Japanese
Of course, tango's language is universal and breakes all barriers of spoken language.
September issues of our usual titles have arrived.
National Geographic - This Month's Issue: "Soul of Pakistan," "Bog Bodies," "Vesuvius," "Glacier National Park," and More
Come and see what else is new @ Bloom!
É com imenso gozo que Francisco Umbral se dedica nesta obra à recriação humana e intelectual de uma vasta gama de literatos e artistas, numa série de retratos irónicos, líricos e deliciosamente anedóticos que nos falam do cabelo verde de Baudelaire, do falhanço de Stendhal, dos pecados de Clarín, da cozinheira de Proust, da orelha de Van Gogh, do namorado de Óscar Wilde, do surrealismo burguês de Magritte ou das ligas de Madame Bovary. Um percurso repleto de grandes figuras, figurões e fetiches literários do autor, onde não faltam Kafka, Cocteau, Dali, Dora Maar, Kipling, Joyce, Virginia Woolf, Simenon, Sartre, Juan Rámon Jiménez, Graham Greene, Eugenio d’Ors, Pla, Cela ou Saramago.
O autor não pretende, com estes perfis fazer cátedra nem converter a literatura num campeonato; opta apenas por conviver irónica e educadamente com os monstros que tanto amamos e com as “monstras” que habitualmente lhes deram o Sol e lhes fizeram sombra.
Um livro esplêndido, onde Umbral mostra as secretas paixões literárias e apresenta um heterodoxo mapa cultural da Europa.
Umbral foi um dos escritores mais importantes da Espanha na segunda metade do século XX, recebeu o Prêmio Príncipe de Astúrias das Letras, em 1996, e o Prêmio Cervantes de 2000. Nascido em 11 de maio de 1935, em Madrid, o escritor passou sua infância e adolescência na cidade espanhola de Valladolid.
Entre os mais de 80 livros publicados por ele, destacam-se “As ninfas” (1975), “Mortal e rosa” (1975), “Madrid 1940: Memórias de um jovem fascista” (1993), e “E Como Eram as Ligas de Madame Bovary?” (2003). Faleceu na Terça-Feira passada, 28 de Agosto, aos 72 anos, na cidade onde nasceu.
Mais um grande escritor que nos deixa, tornando o mundo literário mais pobre, e que lembramos neste pequeno espaço da Bloom.
E como eram as ligas da Madame Bovary?, de Francisco Umbral
Campo das Letras * ISBN: 9726109855
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Francisco Umbral, also Paco Umbral, (May 11, 1935 - August 28, 2007) was a Spanish journalist, novelist, biographer and essayist.
Although he was born in Madrid, a city that has inspired most of his work, his early years were spent in Valladolid. His mother travelled to Madrid for his birth, because he was an illegitimate child. His mother's indifference and distance from him marked him with an enduring sadness, as did the infant death of his only son, from which event was born his saddest and most personal book, Mortal y rosa, (A Mortal Spring). This created in the author a characteristic haughty manner, devoid of hopefulness, absolutely submerged in literature, which has provoked many polemics and emnities.
In Valladolid he began his journalistic career at El Norte de Castilla, under the tutorship of Miguel Delibes. In 1961 he went to Madrid as a correspondent and quickly became a prestigious reporter and columnist in magazines such as La Estafeta Literaria, Mundo Hispánico and Interviú, and in influential newspapers such as Ya and ABC, although he is best known for his writings for the daily newspapers El País (founded in 1976 just after the death of the Spanish dictator Francisco Franco and the restoration of constitutionalism and democracy) and El Mundo (founded 1990). At El País he was one of the reporters who best was able to describe the countercultural movement known as La Movida, but his literary quality undoubtedly came from his creative fecundity, his linguistic sensibility and the extreme originality of his style, very careful and complex, creative in its syntax, very metaphorically developed and flexible, abundant in neologisms and intertextual allusions; in sum, of a demanding lyric and aesthetic quality. He practices a species of anti-bourgeois criticism of customs and manners, without renouncing a romantic ego, and, in the words of Novalis, has the intent of giving the dignity of the unknown to the everyday, impregnating it with a desolate tenderness. As a political reporter, Umbral is a highly trenchant writer. Having become a successful journalist and writer, he worked with Spain's most varied and influential magazines and newspapers. Francisco Umbral was awarded with the Premio Nadal (1975), Premio Cervantes (2000), among others.
Francisco Umbral, a prolific writer who was an acerbic observer of his contemporary Spain, died early Tuesday, 28th of August. He was 72.
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Neste livro, o autor, Eduardo Prado Coelho, escreve sobre objectos, comportamentos, locais emblemáticos ou características que formam o que poderíamos chamar a idiossincrasia portuguesa.
São coisas nossas, são comportamentos nossos, são expressões nossas que, errada ou certeiramente, julgamos que só nós é que temos (os pastéis de nata ou as saudades) ou que ninguém é capaz de fazer tão bem como nós (o bacalhau, as sopas).
O autor faz uma abordagem muito pessoal de cada um dos temas, recorrendo a episódios, a memórias, a relatos de terceiros, complementada por uma iconografia moderna. As fotografias do livro foram, na sua esmagadora maioria, feitas expressamente para esta edição.
A lista dos tópicos que mereceram a intervenção de Eduardo Prado Coelho é a seguinte:
1. Pastel de Nata 2. Os diminutivos 3. Vinho do Porto 4. O Fado 5. “Tudo bem” 6. Bacalhau 7. Café/ ir ao café 8. Saudades 9. Fernando Pessoa 10. Cais da Ribeira 11. Bairro Alto 12. O Mar/ Guincho 13. Cortiça 14. Sardinhas 15. Cartas Portuguesas /Mariana Alcoforado 16. Roupa na janela 17. Mercearia 18. Sopas 19. Senhor Doutor 20. Calçada Portuguesa 21. Passar pelas brasas 22. Marmelada 23. A culpa morreu solteira
Eduardo Prado Coelho nasceu em Lisboa, a 29 de Março de 1944, e faleceu na mesma cidade a 25 de Agosto de 2007. Licenciou-se em Filologia Românica, na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e doutorou-se em 1983, na mesma Universidade, com uma tese sobre “A Noção de Paradigma nos Estudos Literários”. Em 1984, passou para a Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. Em 1988, foi para Paris ensinar no Departamento de Estudos Ibéricos da Sorbonne - Paris 3. Entre 1989 e 1998 foi conselheiro-cultural na Embaixada de Portugal em Paris e, em 1997, director do Instituto Camões, nesta cidade. Colaborou sempre em jornais e revistas, nomeadamente no suplemento literário do Público, Mil Folhas, que saía ao sábado, escrevendo também uma crónica diária, mais pessoal, no mesmo jornal. Autor de uma ampla bibliografia universitária e ensaística, onde se destacam um longo estudo de teoria literária, "Os Universos da Crítica", vários livros de ensaios "O Reino Flutuante", "A Palavra sobre a Palavra", "A Letra Litoral", "A Mecânica dos Fluídos", "A Noite do Mundo", ganha o Grande Prémio de Literatura Autobiográfica da Associação Portuguesa de Escritores, em 1996, com o diário, em dois volumes, "Tudo o Que Não Escrevi". Em 2004, foi-lhe também atribuído o Grande Prémio de Crónica João Carreira Bom. "Nacional e Transmissível", o último livro que publicou, faz parte da colecção "Três Sinais" da Guerra e Paz.
Esta é a sugestão da Bloom, o último livro publicado de Eduardo Prado Coelho, para lembrarmos e homenagearmos este escritor, ensaísta e professor universitário, um elemento incontornável do panorama cultural português, que com a sua morte fica irremediavelmente mais pobre.
Nacional e Transmissível, de Eduardo Prado Coelho
Editora Guerra e Paz • ISBN: 989801413X
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POST SCRIPTUM 2
Depois de ter saído da Aeronáutica Civil de Moçambique onde era Controlador, como já recordei anteriormente, o meu amigo Domingos Azevedo que era Chefe de Reportagem do novo jornal "A TRIBUNA", de Lourenço Marques, arranjou-me um lugar como repórter naquele jornal. Assim passei a escrever todos os dias sobre acontecimentos na cidade - desastres, festas, críticas de cinema, incêndios e tudo o mais que faz parte da vida diária de uma cidade.
Um dia o Chefe de Redacção, o Fernando Carneiro, mandou-me chamar e disse-me: - Vá ao Aeroporto para fazer uma reportagem sobre um avião com turistas Sul-africanos que vai partir para Londres. É uma nova companhia turística que vai iniciar a sua actividade com carreiras aéreas a partir de Lourenço Marques.
E assim foi.
Quando cheguei ao Aeroporto estava na pista, estacionado, um Boeing da Swissair que iria partir em breve para Londres, completamente cheio, para cima de duzentos passageiros, levando turistas Sul-africanos.
Servindo-me das facilidades que me proporcionavam o facto de estar entre antigos colegas, entrei na pista e fui até ao avião da Swissair que me intrigou pelo seu mau aspecto, incluíndo falhas na pintura, um trém de aterragem com pneus completamente gastos e tubos de pressão de óleo com ligações reforçadas com adesivo. Aquilo era absurdo porque eu sabia muito bem, devido às minhas antigas funções na Aeronáutica Civil, que os pneus de um avião daqueles tinham de ser mudados, por disposição da ICAO (Organização Internacional da Aviação Civil), após quatro aterragens, nunca podendo chegar àquele estado de desgaste. Para mais, os aviões de carreira, ao fim de um certo número de horas de voo, entram obrigatoriamente na manutenção, que faz uma revisão completa a todo o aparelho, promovendo as necessárias substituições para então dar como apta a aeronave para poder voar.
Tirei fotografias ao trem de aterragem, aos tubos com adesivo e mais a umas quantas mazelas daquele avião.
Depois fui tentar saber o que estava por detrás de tudo aquilo.
Um tal senhor sul-africano que tinha uma Agência de Turismo, o Senhor Monty Rosen, oferecia passagens para Londres (voo directo), com estadia de uma semana em Inglaterra e regresso a Joanesburgo, por um preço incrivelmente baixo. Os turistas só tinham de aguardar pela data do embarque que seria quando todos os lugares do avião estivessem preenchidos.
Então o Senhor Monty Rosen fretava um avião de uma companhia aérea qualquer, enchia-o com os seus turistas e levava-os para Londres, ida e volta. A Aeronáutica Civil da África do Sul não autorizou esse negócio. Então o senhor Monty Rosen veio a Moçambique e fez um acordo com a Aeronáutica Civil, que recebia os seus aviões fretados no Aeroporto de Lourenço Marques, pagando ele uma taxa de estacionamento e serviços. Os turistas eram metidos em autocarros em Joanesburgo e trazidos para Lourenço Marques onde eram então embarcados no avião que os levariam aos seu destino.
Tudo muito bem se não fosse o facto de que os aviões estavam a ser fretados sem quaisquer certificados de garantia quanto à sua revisão. Por exemplo, aquele avião da Swissair só podia ter sido alugado a um serviço de manutenção que o tinha consigo para proceder à sua certificação.
Alugavam-no ao senhor Monty Rosen e se a Aeronáutica Civil de Moçambique os deixava voar sem certificação o problema não era deles.
Fiz a reportagem com todos estes dados e até com a fotografias do trem de aterragem do avião da Swissair, mas o Fernando Carneiro, chefe da redacção, apanhou um susto e não quis publicar a reportagem. Só o Domingos Azevedo esteve a meu favor e insistia na publicação da reportagem. O assunto acabou por chegar ao Governador que juntamente com a Direcção da Aeronáutica Civil chegaram à conclusão que a manutenção do acordo com o senhor Monty Rosen era uma fonte de receitas para a Aeronáutica Civil de Moçambique e portanto do nosso exclusivo interesse.
A reportagem foi cortada pela censura e eu terminei a minha carreira como jornalista.
Por acaso soube um ano mais tarde que um avião do senhor Monty Rosen tinha tido um grave acidente no Kano, um território africano onde morreram para cima de duzentos passageiros.
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Camus was a French philosophical novelist and essayist who was also a prose poet and the conscience of his times. He was born and raised in Algeria, and his experiences as a fatherless, tubercular youth, as a young playwright and journalist in Algiers, and later in the anti-German resistance in Paris during World War II informed everything he wrote. His best-known writings are not overtly political; his most famous works, the novel The Stranger (written in 1940, published in 1942) and his book-length essay The Myth of Sisyphus (written in 1941, published in 1943) explore the notion of "the absurd," which Camus alternatively describes as the human condition and as "a widespread sensitivity of our times." The absurd, briefly defined, is the confrontation with ourselves--with our demands for rationality and justice--and an "indifferent universe." Sisyphus, who was condemned by the gods to the endless, futile task of rolling a rock up a mountain (whence it would roll back down of its own weight), this becomes an exemplar of the human condition, struggling hopelessly and pointlessly to achieve something. The odd antihero of The Stranger, on the other hand, unconsciously accepts the absurdity of life. He makes no judgments, accepts the most repulsive characters as his freinds and neighbors, and remains unmoved by the death of his mother and his own killing of a man. Facing execution for his crime, he "opens his heart to the benign indifference of the universe."
But such stoic acceptance is not the message of Camus' philosophy. Sisyphus thrives (he is even "happy") by virtue of his scorn and defiance of the gods, and by virtue of a "rebellion" that refuses to give in to despair. This same theme motivates Camus' later novel, The Plague (1947), and his long essay The Rebel (1951). In his last work, however, a novel called The Fall published in 1956, the year before he won the Nobel prize for literature, Camus presents an unforgettably perverse character named Jean-Baptiste Clamence, who exemplifies all the bitterness and despair rejected by his previous characters and in his earlier essays. Clamence, like the character in The Stranger, refuses to judge people, but whereas Meursault (the "stranger") is incapable of judgment, Clamence (who was once a lawyer) makes it a matter of philosophical principle, "for who among us is innocent?" It is unclear where Camus' thinking was heading when he was killed in an automobile accidence (with his publisher, who walked away unharmed).
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Depois de 'Herman' e de 'Beatles' a Cavalo de Ferro traz-nos mais um volume da representação de Lars Saabye Christensen no universo literário mundial. 'Meio-irmão' é a história invulgar de uma família, percorrida por quatro gerações, que se move pelas diferenças e pela união. No centro estão dois irmãos, o boxeur Fred e Barnum, o seu irmão mais novo. Filhos da mesma mãe procuram através de vidas literalmente opostas encadear toda o sentido das suas existências.
Barnum, a passar por uma crise pessoal, escreve argumentos para cinema e é na história recambolesca da sua família que vai buscar a fonte da sua inspiração, onde existe um mundo de tramas e uma profusão de acontecimentos que despertam todo o panorama da sua criatividade. Cria assim um fio condutor que levam acontecimentos reais para a sala escura onde passam os filmes e onde passa no fundo toda a sua vida.
'Meio-irmão' é um romance épico verdadeiramente envolvente.
'Meio-irmão', de Lars Saabye Christensen • CAVALO DE FERRO(O APARTAMENTO)Boletta, mãe de Vera, estava longe de ser uma mulher religiosa, antes pelo contrário, já tinha milagres que lhe chegassem, mas agora abriu a porta para a varanda estreita sobre Gørbitzgate, postou-se lá e desfrutou aquele instante por tudo o que valia: os sinos da igreja que tocavam em uníssono por toda a cidade, Majorstuen, Aker e Fagerborg, conseguia ouvir até os de Sagene e Uranienborg, aquele som suave e feroz que era como que elevado pela luz e pelo vento e se erguia numa entoação imensa que, de uma vez por todas, iria calar o eco branco e agudo do alarme antiaéreo. — Podes fechar a porta? Faz corrente de ar! — Boletta voltouse para a porta, quase ofuscada. A escuridão lá dentro ficou ainda mais profunda. Os móveis escuros pareciam sombras pesadas que se deixavam mover, aparafusados pelo duro tiquetaque do relógio no corredor. Teve de proteger os olhos por uns segundos. — Tinhas pensado em ficarmos constipadas logo hoje? Passámos bem durante toda a guerra! — Não precisa de gritar comigo, mãe. Boletta fechou a porta da varanda e viu que a Velha estava junto à estante. Estava ali, vestida com a sua combinação até aos tornozelos e as suas pantufas de veludo vermelhas e tirava livros que deitava na salamandra, enquanto falava rápida e insistentemente consigo própria. O lamento dos sinos de igreja reduziu-se a um único canto. Boletta aproximou-se devagar. — O que está a fazer, mãe?
Mas a Velha não respondeu, ou não ouviu, e foi por isso que não respondeu. A Velha era surda de um dos ouvidos e o outro também não funcionava como devia. A lesão tinha acontecido quando Filipstad explodiu em Dezembro de 43. A Velha estava sentada na sala de jantar e rodava o botão do rádio para a frente e para trás, rádio que se tinha recusado a entregar, alegando que era uma cidadã dinamarquesa e que pretendia apenas ouvir programas de Copenhaga. Ela asseverava que a explosão tinha saído do altifalante com potência redobrada, acompanhada de uma desinibida banda de jazz da América e, assim, a bigorna do seu ouvido esquerdo ficou esmagada, enquanto o estribo do outro ficou deslocado. No seu íntimo, Boletta estava convencida de que os ouvidos da mãe funcionavam perfeitamente, mas que ela se reservava o direito de ouvir apenas o que queria ouvir. Agora via que eram os romances de Knut Hamsun que a Velha tirava das prateleiras e enfiava dentro da salamandra verde. — O que é que estás a fazer?! — gritou Boletta uma vez mais e agarrou a mãe pelo braço. — Estou a acabar com o Hamsun! — Hamsun? Tu amas o Hamsun! — Já não o leio há cinco anos! E ele devia ter saído desta casa há muito tempo! — A Velha volto-se para a filha. Agitou os Frutos da Terra em frente à sua cara. — E especialmente depois do que escreveu no jornal! — O que é que ele escreveu?
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Two very different writers; two poems which touch on the topic of sleep.
Sleep Spaces
In the night there are of course the seven wonders
of the world and the greatness tragedy and enchantment.
Forests collide with legendary creatures hiding in thickets.
There is you.
In the night there are the walker's footsteps the murderer's
the town policeman's light from the street lamp and the ragman's lantern
There is you.
In the night trains go past and boats
and the fantasy of countries where it's daytime. The last breaths
of twilight and the first shivers of dawn.
There is you.
A piano tune, a shout.
A door slams. A clock.
And not only beings and things and physical sounds.
But also me chasing myself or endlessly going beyond me.
There is you the sacrifice, you that I'm waiting for.
Sometimes at the moment of sleep strange figures are born and disappear.
When I shut my eyes phosphorescent blooms appear and fade
and come to life again like fireworks made of flesh.
I pass through strange lands with creatures for company.
No doubt you are there, my beautiful discreet spy.
And the palpable soul of the vast reaches.
And perfumes of the sky and the stars the song of a rooster
from 2000 years ago and piercing screams in a flaming park and kisses.
Sinister handshakes in a sickly light and axles grinding on paralyzing roads.
No doubt there is you who I do not know, who on the contrary I do know.
But who, here in my dreams, demands to be felt without ever appearing.
You who remain out of reach in reality and in dream.
You who belong to me through my will to possess your illusion
but who brings your face near mine only if my eyes are closed in dream as well as
in reality.
You who in spite of an easy rhetoric where the waves die on the beach
where crows fly into ruined factories, where the wood rots
crackling under a lead sun.
You who are at the depths of my dreams stirring up a mind
full of metamorphoses leaving me your glove
when I kiss your hand.
In the night there are stars and the shadowy motion of the sea,
of rivers, forests, towns, grass and the lungs
of millions and millions of beings.
In the night there are the seven wonders of the world.
In the night there are no guardian angels, but there is sleep.
In the night there is you.
In the daylight too.
--Robert Desnos
Variations on the Word "Sleep"
I would like to watch you sleeping,
which may not happen.
I would like to watch you,
sleeping. I would like to sleep
with you, to enter
your sleep as its smooth dark wave
slides over my head
and walk with you through that lucent
wavering forest of bluegreen leaves
with its watery sun & three moons
towards the cave where you must descend,
towards your worst fear
I would like to give you the silver
branch, the small white flower, the one
word that will protect you
from the grief at the center
of your dream, from the grief
at the center. I would like to follow
you up the long stairway
again & become
the boat that would row you back
carefully, a flame
in two cupped hands
to where your body lies
beside me, and you enter
it as easily as breathing in
I would like to be the air
that inhabits you for a moment
only. I would like to be that unnoticed
& that necessary.
--Margaret Atwood
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GONE, BABY, GONE - é o título de um livro de Dennis Lehane de 1998, autor de Mystic River, Shutter Island, Coronado, entre outros, que Nuno Cotter manteve na sua tradução e foi editado este ano pela Gótica.
O desaparecimento de Amanda McCready, de quatro anos de idade é o tema central de mais uma investigação dos detectives privados Patrick Kenzie e Angela Gennaro, personagens que o referido autor também fez actuar em Sacred, Darkness Take My Hand ou A Drink Before the War. A dupla é chamada ao caso pela tia da menina, não só pela fama que estes grangearam com a resolução do caso Gerry Glynn, um assassino em série que actuava em Boston, mas pelo assinalável desinteresse da mãe pelo seu paradeiro, Helene McCready, uma toxicodependente. No decurso das investigações os detectives ficam perante a seguinte situação: acabam por um lado por descobrir e eliminar um grupo de pedófilos que tinha raptado várias crianças onde a descrição dos maus tratos infligidos quase faz desistir a leitura pelo arrepio e mal estar que provoca, tal o grau de insanidade e da certeza que pessoas assim existem, a par do nosso desconhecimento das profundezas do abismo humano. E por outro, polícias que actuam contra a lei que tratam de apanhar algumas crianças filhas de toxicodependentes ou em situações semelhantes de grande carência afectiva e que, através de documentação forjada, as entregam “legalmente” a famílias onde em princípio serão amadas e terão hipóteses de um futuro risonho, que afinal foi o que esteve na base do desaparecimento de Amanda.
Lionel McCready, irmão de Helene, anos atrás numa festa de despedida de solteiro de um dos seus amigos, envolveu-se numa briga. Antes de avançar para o seu opositor e de lhe rachar a cabeça com um taco de bilhar, ameaçou-lhe: “Afasta-te ou eu mato-te”, resultando assim os factos em tentativa de homicídio. No julgamento que se seguiu, Broussard, um polícia do Boston Police Department que tinha assistido aos acontecimentos mentiu, testemunhando a favor de Lionel e safou-o. Da amizade que a seguir se foi cimentando veio o desabafo um dia de mais uma negligência de Helene: tinha encontrado uns tipos com um saco de erva e foi com eles, deixando Amanda adormecida na praia e a miúda sofreu um escaldão horrível. Só não foi processada pela Protecção de Menores porque Lionel (mais uma vez) intercedeu. Depois de mais não sei quantas do género, aceitou a solução proposta por Broussard: fazer desaparecer Amanda e entregá-la a um lar cheio de afecto com a contrapartida do silêncio total sobre o assunto.
No fim, Lehane intensifica o drama descrevendo com mestria cinematográfica a acção policial que leva à recuperação da criança. E como quem está a assistir a filmagens, vemos a representação do enlevo com que os detectives e os agentes policiais durante um par de horas vigiam a família adoptiva e o aconchego do novo mundo de Amanda, e a acesa discussão que entre eles estala sobre se era certo retirar a miúda daquela família com as consequências processuais penais que se seguiriam (envolvimento criminal de polícias, falsificadores de documentos, famílias adoptivas, etc) e a sua entrega a um “arsénico”chamado Helene.
Neste caso, Helene acaba por ter uma segunda oportunidade. Gone, Baby, Gone é leitura essencial à luz dos casos da pequena Maddy e da menina Esmeralda, bem como dos de todas as crianças que diariamente por esse mundo fora desaparecem, sem deixar rasto.
Gone, Baby, Gone de Dennis Lehane • CIVILIZAÇÃO EDITORA
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Até dia 26 de Agosto há em Évora uma exposição de fotografia com alguns dos Retratos de Cartier Bresson efectuados ao longo da sua vasta carreira. É no Fórum Eugénio de Almeida, na praça principal da cidade alentejana, a da República. Chama-se "Um Silêncio Interior: os retratos de Henri Cartier-Bresson". Tivemos este livro na Bloom, na sua versão inglesa, mas alguém o levou para casa. Com saudades dele, e esperando agora o seu regresso, não deixa de ser uma boa oportunidade para dar um salto até Évora, e rever estas imagens de outro modo. Ainda estou a tempo de lá passar. Na verdade, habituado ao espaço exíguo de Macau, em Portugal há sempre uma imensidão de coisas para fazer.
AQUI UM ARTIGO SOBRE O ASSUNTO
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O centro deste primeiro volume é a famosa conferência "A Cultura Integral do Indivíduo - Problema Central do Nosso Tempo". A presente reedição, contudo, integra o texto quer no processo de amadurecimento de uma problemática específica, quer em circunstâncias (biográficas ou institucionais) exteriores, minuciosamente apontadas nas anotações complementares.
A edição crítica da Obra Integral de Bento de Jesus Caraça não se limita a reeditar os textos já conhecidos. Embora revele também alguns inéditos, procura antes de mais superar-se no presente corpus a inaceitável separação entre a obra matemática e a filosofia da cultura.
Tal propósito já seria inédito. É, contudo, objectivo primacial das investigações reconstituir, pela primeira vez, em condições textuais fidedignas, um itinerário singular na sua contextualidade. A excepcional importância de que se revestem a presença de Caraça e da sua intervenção na nossa história cultural e política tornam imprescindível a reconstituição deste texto integral para a compreensão sistemática do século XX português.
Se não receio o erro, é só porque estou sempre pronto a corrigi-lo.Talentoso matemático e professor universitário, resistente antifascista, lutador pela liberdade e democracia, homem de cultura e de profundas convicções, é uma das mais destacadas figuras portuguesas do século XX, com um valioso e reconhecido contributo no plano intelectual, social e cívico.
Bento de Jesus Caraça (1901-1948)
Há homens e mulheres que se mantêm actuais, além do seu tempo. São raros. Mais raros ainda aqueles que, face ao devir, além da permanência da memória, ganham maior actualidade. Como se tivessem sido, na sua época extemporâneos. Como se nós, os da relatividade do tempo, precisássemos da distância para chegar à intuição e à intenção das suas palavras.Cultura e Emancipação - Obra integral de Bento de Jesus Caraça
Bento de Jesus Caraça situa-se neste excesso, que de vez em quando, é substância dos seres humanos. Como pensador, epistemólogo, como pedagogo, como cientista, como filósofo da cultura. Impossível equacionar o seu perfil de intelectual, intelectual comprometido com o projecto social de liberdade e democracia, nas datas fronteiriças da sua vida: 18 de Abril de 1901, o nascimento em Vila Viçosa, terra do Alentejo, e 25 de Junho de 1948, a morte em Lisboa, num espaço social e político dos anos sombrios do salazarismo, por ele, ao lado dos outros, contestado e também transformado numa medida que só o futuro dimensionaria. - Helena Neves
CAMPO DAS LETRAS • ISBN: 9726104874
Investigadores: Casimiro Amado, Natália Bebiano, Luís Augusto Costa Dias, Helena Neves, João Arsénio Nunes, António Pedro Pita.
Projecto financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia.
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AINDA AS MINHAS MEMÓRIAS
Depois de ter escrito as minhas memórias reparei que várias lições da vida que me ajudaram a fortalecer para encarar com mais coragem o destino, não tinham sido incluídas nessa descrição, talvez porque foram experiências muito pessoais mas que, de qualquer forma, fazem parte das minhas memórias.
Assim, por exemplo, quando fui para Paris aos dezoito anos para tentar trabalhar nos estúdios do Paul Grimaud. fui com o Pops, um bailarino que com o seu irmão Louis deram um espectáculo no Coliseu muito no estilo dos Nicholas Brothers, tão famosos naquela época.
Vim a conhecer o Pops num dos cafés da baixa e estava numa situação difícil porque o irmão fora para Paris e ele estava só e não tinha trabalho. Com o consentimento dos meus pais recolhi-o em nossa casa e quando, quase um mês depois ele partiu para Paris para se juntar ao irmão, fui com ele.
Em Paris fiquei num quarto de uma pensão que pagava todos os dias, perto da Praça Pigalle. Até que no terceiro ou quarto dia da minha estadia, tive de ir trocar os meus dólares americanos que tinha levado de Lisboa, com mais alguns que me dera o meu pai, O Pops tinha desaparecido à procura do irmão e eu fui até à praça Pigalle onde já tinha visto trocar dólares americanos por francos franceses aos marroquinos que proliferavam na praça para servir os turistas. Na minha inexperiência deixei-me levar por um deles que me levou os dólares mas não me deu os francos.
Encontrei-me sem dinheiro, numa terra estranha e numa pensão cujo quarto tinha de pagar todos os dias.
Tomei uma resolução. O que eu não queria de maneira nenhuma era ter de dormir ao relento em cima das grelhas do metro de onde irradiava um certo calor, para não morrer de frio nas noites geladas, como via fazer a tantos vagabundos.
Assim, peguei em tudo o que tinha, malas, roupas, sapatos, acessórios de toilete, máquina fotográfica, etc. e fui vender tudo isso.
Com o dinheiro que consegui arranjar aluguei um quarto para estudantes perto da Praça do Arco do Triunfo, com uma casa de banho privativa, pelo período de um mês. Só fiquei com a roupa que trazia no corpo e dinheiro para comer, não sobrou nenhum.
Desta forma fiquei sem comer perto de uma semana. Bebia água com fartura na casa de banho porque tinha ouvido contar uma história de um tipo que se quisera suicidar e deixara de comer, mas como bebia água levou meses e meses para morrer de má nutrição.
Entretanto nessa semana tinha criado relações e até fizera um amigo o Marcel Fagenman que trabalhava como caixeiro num dos Grandes Armazéns de Paris. Quando soube que eu era português quis saber coisas do meu país e contava-me que o irmão tinha pertencido à resistência durante a ocupação alemã. Por uma questão de orgulho e também talvez por vergonha, nunca lhe disse nada sobra a minha situação difícil e que estava a passar fome porque não tinha dinheiro. Passeávamos no jardim e ele visitava-me no meu quarto, apresentou-me alguns amigos e amigas e contou que o irmão, um dia se vestira de oficial alemão para ir a uma festa no Teatro Paramount promovida pela elites militares alemãs e que no meio do festival atirara uma granada para o meio da plateia, tendo liquidado uma data de altas patentes .
Ora um dia estava eu deitado no meu quarto pior volta das quatro horas da tarde (tinha acabado de encher a barriga de água), quando oiço bater à porta do meu quarto. Fui abrir e deparei com o meu amigo Fagenman acompanhado de uns quantos rapazes e raparigas que entraram pelo quarto gritando-me: - Que andas a fazer?... Veste-te que vamos sair.
Vesti-me a acabámos por ir jantar a um restaurante de grande estilo onde comi pela primeira vez numa semana. Estava com um bocado de receio de alguma reacção... comi cuidadosamente, jantei principescamente e não tive problemas. Enchi a barriga. Depois em ar de festança fomos a uma sessão de cinema e por volta da uma da manhã foram-me levar ao quarto. Fiquei sozinho deitado a meditar. Tudo aquilo me parecia estranho como se o Marcel Fagenman se tivesse apercebido de que algo se passava comigo e arranjara aquela forma de me dar de comer sem me humilhar. E quando abri a gaveta da mesinha de cabeceira, encontrei três nota de mil francos. Desatei a chorar.
No dia seguinte enchi-me de coragem e fui comprar uma camisa porque a que eu usava estava a ficar coçada nos cotovelos e fui então aos estúdios do Paul Grimaud procurar emprego. E essa é uma história que já contei.
Paris estava cheia de marcas da guerra. Em muitas pontes sobre o Sena viam-se fitas azuis brancas e vermelhas, como a bandeira francesa, com placas que diziam: - Aqui morreu Jean Jacques... na noite de... em combate com a uma patrulha alemã que violara uma rapariga francesa. Ou que tentara espancar um jovem.
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Ainda no avião habituamo-nos a reconhecer o espaço e aqueles que, de modo temporário, vão fazer parte dele. É uma forma de consolidarmos a nossa segurança e construirmos o nosso palco. Ou de certo modo criar apenas o lugar que vamos ocupar, sem estabelecer qualquer ligação com o que nos rodeia. A minha pretensão é sempre passar incógnito.
A coisa ainda não tinha começado e duas filas à minha frente distingo a língua portuguesa. Um homem diz o seguinte: "Não se mexe nisso assim sem mais nem menos". Referia-se à sua bagagem, à sua pequena mala de mão que transportava consigo e que se encontrava no compartimento por cima dos lugares à sua esquerda. Disse-o assim, alto, para que todos ouvissem. Parecia um pássaro fora da gaiola, profundamente infantil, mas com isso pretendia apenas mostrar o seu controle, refrear o receio pela viagem longa que se ia iniciar. E de todo o modo mostrar o poder sobre aquilo que é seu, é o escorrer da sua génese latina. O vício que propala a sua existência.
Repetiu-o mais uma vez. Da primeira, dirigia-se à sua plateia particular, aqueles que viajavam consigo, a sua esposa, um casal amigo, alguém lá atrás. Procurava reconhecimento. Da segunda, fala para uma mulher que estava a tentar encaixar a sua mala no mesmo compartimento. Nem tentou descodificar o que estava a dizer para se tornar compreensível. Mas a rudeza é uma das linguagens universais e para tal não há necessidade de tradução, compreende-se à légua.
A mulher, surpreendida, limitou-se a responder, "I was only putting it better..."
Isto tudo aconteceu sem eu olhar para lá, estava a passar apenas no meu canal auditivo. Não sei se a mulher era loira ou morena, mas pelo acento proferido pelos seus lábios pareceu-me ser inglesa. O que também não importa para o caso.
Nestes momentos, na minha estranha consciência, mudo sempre de nacionalidade.
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What's your sign?
The world's best logo designs
Everybody knows that brand identity is key. A good logo can glamorize just about anything, so it comes as no surprise that logo design is a crucial step in the development of a product or service.
This exhaustive guide brings together diverse logos from over 30 countries, organized into chapters by theme, such as media, retailers, events, regions, service and agencies. A full index provided at the end of the book lists each logo's company, designer, and designer's website. Also included is a case study section, concentrating on logo application and development.
No graphic designer can do without this book, and anyone who's interested in design will appreciate this diverse compendium of visual ideas. As scientist Linus Pauling once said, "In order to come up with one good idea, you must have lots of ideas."
ABOUT THE EDITOR
Julius Wiedemann was born and raised in Brazil. After studying graphic design and marketing, he moved to Japan, where he worked in Tokyo as art editor for digital and design magazines. Since joining TASCHEN in Cologne, he has been building up TASCHEN's digital and media collection with titles such as Animation Now!, Web Design: Best Studios, and TASCHEN's 1000 Favorite Websites.
Logo Design, Julius Wiedemann (ED)
Softcover + elastic ribbon • 384 Pages • ISBN: 9783822846223 • 2007
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On the way to Europe, on the plane, has I was approaching ground, I remembered the exact time when I have been on this very same flight. It happened last year, in July. I traveled together and we stopped over in Paris just for a while.
On the magazine set into my seat pocket, on the map of the city, I traced my mind with the tip of my finger the places where we were at the time.
The ways we took. The streets, the crossovers, the bridges. The walkbies. Things we did. Places where we ate, where we laughed, where we stare at with intangible pleasure. People we saw, objects we touched. Odors we sensed. The wonderful landscapes.
It was a great short time. And now I realized how it was important to have done it. Even if we were on the middle of a full day journey, filled with 'jetlag' on our belts, it was an experience of much significance.
Things we live shortly sometimes go directly to the border between the midst of our dreams and our real memories - what is pretty much the same - and afterwards we can get notice of them only on the realms of time, when they're gone, on the plains of solitude.
When I slipped my finger across the figurative map of Paris, on flight AF 0185, I realized the compelling fascination of my vivid memories hitting me wildly with a certain type of love and plenitude, living self handed every little step again, mixed with bliss' tears and joy.
On those moments you realize how Life is such a beautiful place to be.
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"Do 25 de Abril à actualidade", é, segundo o seu autor, o historiador António José Telo, "uma explicação para os últimos 30 anos".
"Não me limito a uma cronologia ou a uma descrição, é necessária uma explicação na lógica do entendimento, e é isso que subjectivamente proponho", disse à Agência Lusa.
Na óptica do historiador, "a história é essencialmente uma explicação", conceito que afirma ter pretendido aplicar no livro.
Para fazer "esta história contemporânea, faltam fontes, por não estarem disponíveis ou ainda não existirem, no caso das memórias, por exemplo", assinalou.
"Há um texto explicativo, baseei-me nos factos, e ao longo da narrativa remeto para janelas e quadros explicativos inseridos no volume", indicou ainda.
A obra, com a chancela da Editorial Presença, está dividida em cinco capítulos.
O primeiro capítulo é sobre a revolução e "o novo poder", o segundo intitula-se "a deriva comunista", que cronologicamente vai de Outubro de 1974 a Novembro do ano seguinte, e o terceiro "consolidação e instabilidade".
A primeira secção deste terceiro capítulo intitula-se "O fim do recreio", que cronologicamente corresponde ao contra-golpe militar de Novembro de 1975, e evoca ainda as eleições para a assembleia constituinte, e as seguintes, terminando na adesão de Portugal às Comunidades Europeias, em 1985.
O quarto capítulo versa sobre "Uma economia à procura de uma estratégia" e o último sobre "Sociedade e mentalidades".
"História contemporânea de Portugal. Do 25 de Abril à actualidade", num total de 400 páginas, é o primeiro volume de um projecto de três.
O seguinte, abrangendo o período de 1985 a 2005, analisará "o papel de Portugal no mundo, nomeadamente as áreas de defesa e segurança", adiantou o autor.
António José Telo é professor catedrático de História na Academia Militar e tem publicados 18 títulos, nomeadamente nas áreas da História, Defesa e Relações Internacionais.
Em projecto, o historiador tem uma história político-militar portuguesa dos últimos 50 anos.
História Contemporânea de Portugal - Volume I, de António José Telo
EDITORIAL PRESENÇA • ISBN: 9789722337205
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Quando cheguei a Macau ao fim de tantos anos (havia chegado a Macau pela primeira vez em 1951) graças à minha querida filha Belinda, foi como se tivesse renascido. Macau estava diferente mas havia muita coisa que eu reconhecia. Peguei na minha câmara digital e comecei a filmar a cidade. Valeu-me o conhecimento de novos amigos que vieram ao meu encontro e me ajudaram de uma forma inesquecível, como o Pedro Simões que me valeu em diversas ocasiões de aflição encomendando-me quadros da filha, da mulher e até um auto-retrato que ofereceu à minha filha Belinda. Pintei diversos retratos a óleo para amigos, o que me tem permitido sobreviver para além de uma aposentação mínima que foi a minha mulher que me conseguiu antes de adoecer.
E um dia, ia eu a passear pela Almeida Ribeiro, quando passei por uma jovem chinesa que me fixou nos olhos quando passávamos um pelo outro e eu fixei-a a ela porque aquele olhar era encantador e sereno, como se falasse. Depois de passar por ela parei e olhei para trás. Ela tinha feito o mesmo e estávamos ali a olhar um para o outro parados quando ela me acenou para que me aproximasse.
Começámos a conversar, eu contei-lhe um pouco da minha vida, convidei-a para jantar e ela disse-me que estava em Macau temporariamente porque era da China e só tinha visto para um mês. Acabámos por nos entender e eu levei-a a casa da minha filha várias vezes, onde estava a viver, até que a minha neta Bárbara me disse para não a levar mais vezes. A partir dessa altura a minha filha Belinda, de quem eu era convidado, comprou-me um bilhete de avião para eu voltar para Portugal e assim foi. Mas por pouco tempo. Porque pouco depois comprei uma passagem de Portugal para Macau e regressei. Desta vez foi o meu filho Luís que também trabalha em Macau que pôs à minha disposição um quarto em sua casa para eu viver. Não fiquei lá por muito tempo. Aluguei um quarto e fui viver com a minha companheira que conhecera da vez anterior.
Porém a má sorte perseguia-me e apareceu-me um problema de saúde grave e a minha filha mais uma vez foi a minha salvadora. Conseguiu-me a licença de residência e a entrada no Hospital onde fui operado e onde fui tratado de forma irrepreensível a um tumor. Saí completamente bem e, sem ter sofrido, voltei à luta. Eu tinha feito um pequeno livro sobre a história do cinema, a sua influência na formação da América e a forma como o cinema europeu tinha sido dizimado, o qual enviara em tempos ao Doutor Charter de Azevedo, representante da União Europeia em Portugal, que me escrevera a dizer que com este livro eu tinha "contribuído para uma nova visão na formação da Europa". Era um grande penacho embora não tivesse ganho nada com isso. Na realidade a União Europeia criou o programa Média e parece que está a querer fazer alguma coisa em prol de um cinema europeu.
Preocupado como sempre estive com a falta de formação no nosso país em matéria de cultura cinematográfica, mandei uma cópia desse meu livro à Directora da Escola Portuguesa de Macau, sugerindo que se criassem as aulas de Educação Cinematográfica naquela Escola.
Em resposta recebi uma carta em que se dizia que as aulas de educação cinematográfica "não se coadunam com o nosso sistema educativo."
Estive quase para responder que em África já ouvira uma resposta igual por parte de um régulo a quem o Administrador sugeria que criasse uma escola para ensinar as populações a ler e a escrever. Na altura ouvi precisamente o mesmo.
Entretanto casei-me com a tal jovem chinesa que demonstrou uma dedicação que eu nunca esperaria, acompanhando-me incansavelmente durante o período do meu internamento no Hospital e cuidando de mim quse como se de um filho se tratasse. Mas não lhe concederam licença de residência em Macau e apesar de estar casada comigo e viver comigo, tem que periodicamente estar ausente na China para conseguir um passaporte e um visto que lhe permita estar em Macau. O que não faz muito sentido.
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«A trégua» é considerado o romance emblemático da literatura sul-americana e uma das histórias de amor mais comoventes da literatura moderna.
Em Buenos Aires, dois amantes vivem um amor que transgride todas as convenções sociais.Martín Santomé é viúvo há mais de vinte anos e praticamente criou os filhos sozinho. Confidencia ao seu diário que se sente cansado de um quotidiano sedentário no escritório e que de dia para dia agravam-se os conflitos geracionais com os seus filhos. O seu único alento é a reforma, para a qual faltam seis meses e vinte e oito dias. Tudo muda quando surge uma nova colega, Laura Avellaneda, num escritório contíguo ao seu – “o seu corpo, a sua boca grande, as suas pernas lindas” – e só assim se atenua a obsessão de Martín centrada nos vinte e oito dias.
Martín descobre pela primeira vez o amor com a jovem e vigorosa Laura. Superando todos os convencionalismos e transgredindo as circunstâncias impostas pela diferença de idades, os dois amantes revitalizam sentimentos e enfrentam os riscos dessa relação amorosa: Martín e Laura vivem profundamente o seu momento no qual se inscreve o sentido da eternidade.Romance emblemático dos anos 60, que continua vivo e a ser um testemunho psicológico e social comovente.
Sobre o autor:
Mario Benedetti nasce em Paso de los Toros, Uruguai, em 1920. Entre 1938 e 1945 residiu quase permanentemente em Buenos Aires. De 1945 a 1975 foi jornalista do semanário Marcha, encerrado nessa data por censura da ditadura. Após o golpe militar de 1973, Benedetti teve de abandonar o Uruguai e partir para o exílio, primeiro para a Argentina, depois Perú, Cuba e Espanha. Em 1949 publica «Esta mañana», o seu primeiro livro de contos e em 1953 o seu primeiro romance «Quién de nosostros», mas foi com o volume de contos «Montevidiano», em 1959, que a sua obra narrativa assume uma concepção urbana. Em 1960, com «A trégua» Benedetti alcançou uma projecção internacional. O romance teve mais de uma centena de edições, foi traduzido em dezanove línguas e levado ao cinema, televisão, teatro e rádio. A adaptação ao cinema foi nomeada para melhor filme estrangeiro na 47.ª edição dos Óscares, mas perdeu a favor de «Amarcord», de Fellini. A sua vasta produção literária abarca todos os géneros, romances, contos, poesia, teatro, ensaios, crítica literária, crónicas humorísticas, guiões cinematográficos e as suas famosas letras de canções. Publicou mais de 60 obras, das quais se destacam o romance «Gracias por el fuego» (1965), o ensaio «El escritor latinoamericano y la revolucion posible» (1974), os contos «Con y si nostagias» (1977)e os poemas de «Viento del exilio» (1981). Benedetti foi galardoado com inúmeros prémios: Premio Jristo Botev de Bulgaria (1986), pela obra poética e ensaística, recebe o Premio Llama de Oro de Amnístia Internacional (1987) pelo seu romance «Primavera con una esquina rota», Medalla Haydée Santamaría do Conselho de Estado de Cuba (1989), Premio Morosoli de Plata de Literatura (1996), Premio León Felipe (1997), Premio Reina Sofia de Poesia Iberoamericana, Premio Iberoamericano José Martí (2001), Premio Etnosur (2004), Premio Internacional Menéndez Pelayo (2005) e Premio Morosoli de Oro (2006). Recebeu também diversos doutoramentos e outras distinções em mais de dez países.
Mais uma sugestão de leitura para o seu Verão, trazida até si pela Bloom.
A Trégua, de Mario Benedetti
Editora Cavalo de Ferro • ISBN: 9789896230487 • 2007
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Apesar de continuarmos a publicar diariamente as Memórias de Eurico, o nosso mais produtivo Germinator, elas não estão a ser redigidas no passo dos dias.
O nosso caro amigo, por quem temos grande estima e admiração, foi submetido há poucos dias a uma operação de alguma complexidade aqui em Macau, no Hospital Conde São Januário. Mas antes de ir quis deixar os seus textos prontos, para que púdessemos, de todo o modo, desfrutar deles, como sempre tem sido até aqui.
Por tudo isso, em nome da Bloom e em meu nome pessoal, vimos convidar todos aqueles que tem acompanhado o desenrolar da sua vida, tanto aqui neste espaço, nas palavras, como lá fora, pela amizade e carinho, que deixem a sua mensagem de simpatia e que escrevam tudo o que quiserem como manifestação de afecto para com este grande Homem. Podem fazê-lo na caixa de comentários deste post. Muito obrigado.
Amigo Eurico desejamos-lhe uma recuperação rápida. Daqui, de todos nós, por entre as correrias do mundo, UM FORTE ABRAÇO!
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Durante várias anos, desde o tempo da minha sociedade com o Manuel Figueiredo que tinha um guarda-livros que escriturava a nossa contabilidade e todos os anos eu pagava em média cerca de trezentos contos de impostos ao Estado. Mas um dia encontrei o meu antigo sócio e ele mostrou um conhecimento sobre as contas da Quinecor que me desagradou. Em conclusão o meu contabilista passava informações ao Manuel Figueiredo sobre as nossas contas. Assim resolvi mudar de guarda-livros. Passei a contabilidade toda para um novo encarregado e durante perto de três anos nunca mais paguei impostos ao Estado. A minha mulher que se ocupava das questões burocráticas muitas vezes lhe perguntou: - Mas então nós não pagamos impostos? Ao que ele respondia: - Mas se a senhora não deve, quer pagar?
Ao fim de três anos rebentou a bomba. Ao que parece o nosso contabilista tinha um amigo nas Finanças que limpava os registos de contribuintes que assim saíam do sistema e ficavam isentos.
Quando as relações com o amigo foram descobertas, as Finanças apareceram com a exigência do pagamento de uma dívida estimada em dez mil contos, ou então a penhora de todos os bens da Quinecor. O novo guarda-livros não tinha escriturado uma única linha nos nossos livros de contabilidade. Fui forçado a suspender a actividade da Quinecor e foram penhoradas umas quantas coisas que ainda tínhamos.
O pior disto tudo foi que um dia estava eu muito bem a fazer uns desenhos sentado no meu estirador quando oiço um ruído forte no corredor. Saio para fora e encontro a minha mulher que estava no andar de cima no escritório e tinha rebolado pela escada abaixo, estendida no chão inconsciente. Levantei-a e chamei uma ambulância e foi para o hospital onde determinaram que tinha tido um acidente vascular cerebral. Andámos pelos médicos mais de quinze dias quando um neurocirurgião do hospital diagnosticou uma doença incurável, de origem genética e da qual nunca tinha ouvido falar: a Ataxia.
É uma doença que consiste na morte sucessiva dos neurónios do cerebelo o que resulta numa progressiva dificuldade em encontrar o equilíbrio e mais tarde em conseguir falar.
A minha mulher fora a minha dedicada companheira em mais de cinquenta anos de vida. Tínhamos cinco filhos, três rapazes e duas raparigas de que ela sempre cuidou carinhosamente e eu já era avô de nove netas.
Durante três anos cuidei dela, que já não podia andar e que por estar deitada permanentemente criara chagas nas costas que tinham de ser tratadas. Enfermeiras vinham a nossa casa regularmente para tratar disso.
Eu dava-lhe de comer, ajudava-a mudar de posição e fazia-lhe companhia. Um dia encontrei-a a chorar e perguntei-lhe porquê. Com imensa dificuldade respondeu-me: - Porque te quero ajudar e não posso...
Quando recordo isso ainda me vêem as lágrimas aos olhos.
Certa vez fui à Internet procurar informações sobre a doença da minha mulher e descobri que no Brasil um médico tinha conseguido curar a doença com um produto designado COQ 10.
Fui falar nisso ao médico que ficou furioso por eu ter ido à Internet e que quase por favor receitou o COQ 10 que passei a dar à minha mulher. Depois de muita insistência o médico de família acabou por me dizer que se o COOQ 10 tivesse sido dado logo de princípio talvez tivéssemos tido a oportunidade de a salvar, mas que agora já era tarde.
Assim um dia eu estava no quarto e tinha acabado de lhe dar o almoço quando ela me pediu para a sentar. Contra o habitual até falou com uma certa clareza e eu fiquei todo animado. Depois pediu-me também claramente: - Chega-me para trás.
Neste momento tocaram à campainha e fui abrir a porta. Eram as enfermeiras que vinham fazer o tratamento das escáreas nas costas. Fui à cozinha pôr os utensílios do almoço e quando vinha pelo corredor em direcção ao quarto, as enfermeiras vinham a sair e disseram-me: - Está morta!
Não sei descrever o que senti. Abracei a minha mulher a chorar e as enfermeiras só me diziam: -Não faça isso.
Tudo o que se passou a seguir, está envolto numa neblina que não sei explicar. Deu-se o funeral e eu a única coisa que sentia era uma poderosa vontade de morrer. A vida para mim perdera o sentido. Mas faltava-me a coragem para tomar uma decisão e a minha inteligência dizia-me que era minha missão seguir em frente até ao fim. Entrei num estado de depressão em que nada me interessava.
A minha filha mais nova, que vivia agora em Macau onde era funcionária pública, mandou-me uma passagem de avião para Macau e convidou-me a passar uns tempos com ela.
E foi o que aconteceu.
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REMEMBER THIS symbol.
This is the start of our next project. It will be big. It will go worldwide and will involve Macau at its very best. At all its creative power.
Is always about Books, about Literature, about stories of men and women. About everything you can image and imagination is endless and big. It's all about the best. And always regarding human intervention.
We are very happy to have start it all the way from scratch. We'll keep going.
Keep in touch. STAY TUNED!
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THE GOOD, THE BAD AND THE QUEEN
Moving uptownThe Good, the Bad and the Queen is a song by an unnamed alternative rock band fronted by Damon Albarn, the one from Blur and Gorillaz, and is the title song and final track on their 2007 debut album The Good, the Bad and the Queen. A live version of the song recorded at The Tabernacle was also released as a B-side on the band's second single "Kingdom of Doom".
But I know it's the place I should be
The streets are all quiet
And no one saying nothing at all
Then the sun came out of he clouds
And charged up the satellites
We all got our energy back and started talking again
It's the blessed routine
For The Good, The Bad And The Queen
Just moving out of dreams with no physical wounds at all
Don't kick the crack heads of the green
They are a political party
And the kids are never going to be tired
Cos everything is so slightly
Everything is so slightly
Come
Everything is so slightly
Come
When the album was previewed by Uncut in November 2006, the magazine called the song "a surreal knees-up round a knackered old joanna that celebrates how the same sun cheers both Queen and crackheads - before building up to a psychotic guitar wig-out."
Damon Albarn told NME in January 2007 that the song "had to be last" referring to the position in the album because "where do you go after that noisy bit at the end?"
Noel Gallagher, Albarn's old rival from the Britpop days of the 1990s said in a March 2007 interview, ""I love the bit at the end of their song 'The Good, The Bad and The Queen' when it goes crazy". It was the first time Gallagher had ever spoken favourably of Albarn's music.
In May 2007, the band posted an official video linked from YouTube for the song on their MySpace blog. Picked up by BLOOM TV, here it is now:
• THE GOOD THE BAD AND THE QUEEN - (LIVE VERSION)
• THE GOOD THE BAD AND THE QUEEN - SUFI VIDEO (by STEPHEN POOK)
[click the links above]
[SEARCH FOR TGTBATQ ALBUM ON THE NET]
O diálogo com a natureza é condição sine qua non para o artista. O artista é um ser humano, é natureza e uma parte da natureza no espaço da natureza.Esta antologia de textos teóricos publicados em vida de Paul Klee (1879-1940) reúne, para além de ensaios e conferências, os célebres Esquissos Pedagógicos, um dos mais significativos conjuntos de reflexões e desenhos do século XX, que revelam os caminhos da criação num dos pintores maiores desse século.
O número e o tipo de caminhos a percorrer, tanto na produção artística como no mundo da natureza que lhe está associado, mudam apenas com a atitude do ser humano no que se refere ao seu raio de alcance por dentro deste espaço.
Os caminhos muitas vezes parecem novos, talvez sem, no fundo, o serem. Apenas a sua combinação é nova; verdadeiramente novos, eles são-no quanto comparados com o número e o tipo de caminhos de ontem.
Mas, ser novo em relação a ontem é ainda assim uma característica revolucionária, ainda que isso não chegue para abalar o grande mundo do passado. Por isso, a alegria trazida por essa novidade não precisa de ser diminuída; a vasta memória histórica apenas deve servir para evitar que procuremos à viva força uma novidade à custa da expressão natural.
O conjunto de textos teóricos aqui reunidos responde a perguntas como: Qual a função da pintura moderna? Que relações estabelece com a música, a poesia, as matemáticas, a biologia? Como se pode compreender o poder da linha, do espaço, da forma e da cor? De que modo tudo isso dá expressão a uma consciência nova de nós próprios e do universo?
A arte não é uma ciência que seja fomentada progressivamente através de muito trabalho e da investigação de muitos membros; pelo contrário, é o mundo da diversidade. Cada personalidade, que dispõe da sua própria forma de expressão, tem aqui o seu valor. Só os fracos, aqueles que em lugar de procurarem em si próprios, procuram naquilo que já existe, devem desistir.Vivi sempre com Paul Klee em casa, nas paredes, nos desenhos que toda a família fazia pelos murais interiores do nosso apartamento. Chamavamos-lhes os sonhos de Paul Klee. A minha mãe ficava com os cabelos em pé, mas quando dizíamos que tinha sido o Paul Klee a fazer, ela lá se acalmava. Foi o nosso avô que nos trouxe essa mania.
Quando mudámos de casa, ainda quisemos levar toda a parede. O meu irmão, à semelhança do que fizeram mais tarde com o Muro de Berlim e com os despojos do 11 de Setembro, ainda conseguiu, a muito custo, com um escopro e um martelo, saquear alguns decímetros cúbicos de tijolo e argamassa, com a superfície lisa do seu primeiro sonho de Klee, a cabeça do terrível fantasma do homem que decidiu ficar senil, só porque não tinha mais nada para fazer.
Mais tarde, o novo dono da casa usou o buraco na parede para embutir um cofre para os seus valores de maior estima. E nós, quando soubemos disso, fartámo-nos de rir.
Escritos Sobre Arte • Paul Klee • EDIÇÕES COTOVIA
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Quando já íamos no segundo ou terceiro episódio o Senhor Victor Manuel (que era um grande forreta e a quem os seus próprios colaboradores chamavam o Tio Patinhas), começou a dar ordens aos meus manipuladores para a forma como deviam actuar. Aí eu intervim e disse-lhe: - Meu caro senhor, os meus marioches sou eu quem dirige e o senhor não tem que se meter. - Isso é que era bom, respondeu-me ele. E eu não fiz mais nada. Virei-me para o operador que era funcionário do Victor Manuel e disse-lhe: - Por favor pegue na câmara e ponha-se na rua. Depois virei-me para o restante pessoal e declarei: - Meus senhores a Pandilha do Tomé acabou hoje e aqui.
O pessoal foi-se embora, eu desliguei os projectores e durante quatro dias insistiram comigo para que se voltasse ao trabalho. Uma das pessoas que mais pressão fez sobre mim foi o meu amigo Gomes Pereira que não tinha nenhum interesse nesta questão mas queria ver os marioches a trabalhar. Por fim cedi numa condição. O senhor Victor Manuel nunca mais dirigiria a palavra aos meus manipuladores. E assim foi. Até ao fim da série o senhor Victor Manuel nunca mais meteu o bedelho na nossa actividade. Mas havia muitas coisas na série que não me agradavam. Por exemplo, a RTP exibia os programas às nove da manhã de domingo.
Eu pensava que ninguém iria ver àquela hora e naqueles dias o nosso trabalho. Mas, ao fim da primeira série de treze episódios a RTP renovou o contrato, coisa que só fazia quando os níveis de audiência subiam. Fizemos no fim vinte e seis episódios da série - A Pandilha do Tomé. Foi engraçado porque um dia um colaborador nosso que tinha um teatro de fantoches convidou-me para levar a uma escola primária os meus bonecos para as crianças verem. E quando lá cheguei qual não foi a minha surpresa quando fui envolvido por dezenas de miúdos que gritavam e apontavam para os bonecos, lhes citavam os nomes e contavam as aventuras deles na série da RTP.
Entretanto eu planeava novas produções e então ocorreu-me que seria engraçado ver os meus marioches contracenarem com figuras políticas e largar umas bocas sobre a situações do nosso País e fiz um boneco que era uma caricatura do Doutor Mário Soares e outra do Doutor Cavaco Silva.
Depois elaborámos um pequeno filme em que o professor Cavaco Silva cantava a mula da cooperativa e não só. Proferia um discurso cantinflesco. Propuz então à RTP fazer um programa aproveitando essa ideia mas a RTP preferiu dar um trabalho do mesmo género à senhora Mafalda Mendes de Almeida que começou a fazer um programa de caricaturas políticas em que os bonecos de técnica muito primitiva não se pareciam em nada com os supostos caricaturados.
Entretanto, sem eu saber, alguém aproveitou as minhas imagens do Cavaco Silva, para as incluir num vídeo promocional que correu na RTP, de um conjunto musical que lançara um CD com uma música intitulada: "Tu queres ECUS."
A Dona Mafalda Mendes de Almeida então foi a Inglaterra buscar um português que fazia caricaturas políticas para um programa intitulado "The Spitting Image".
Começou então a produzir o "Contra Informação" em que o trabalho desse jovem trazido de Inglaterra já era digno de se ver.Também veio contratar os meus manipuladores que passaram a fazer o seu trabalho para o "Contra Informação".
É curioso que o programa "Spitting Image", em Inglaterra, por sua vez, acabou.
Os marioches ainda participaram em alguns publicitários, mas praticamente entraram em repouso. Não fizeram mais programas. O Cocas e o Jimmy Henson também tinham passado à história. Jimmy Henson morrera e o seu filho ainda continuara por uns tempos.
O actor principal da Pandilha do Tomé, o Mário Sargedas, também morrera. A sua personalidade, de homem bom e paciente são inesquecíveis para mim. O papel que ele desempenhou na série em que fazia de um velho com uma loja de reparações de electro domésticos, fazendo bonecos para a sua netinha se divertir, mas que ficara só com os bonecos quando ela partira com os pais para o Brasil, acabara por ver esses bonecos ganhar vida e com ele viver grandes aventuras que envolveram aquelas crianças que passaram a frequentar a sua loja (electrodomésticos já não lhe interessavam), ficou-me no coração.
Ainda hoje sinto saudades desses marioches.
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Rumble Fish is a 1983 film directed, produced and co-written by Francis Ford Coppola, based on the novel by S.E. Hinton who co-wrote the screenplay as well. The film centers on the relationship between the Motorcycle Boy (Mickey Rourke), a revered former gang leader, and his younger brother, Rusty James (Matt Dillon), who can neither live up to his brother's great reputation nor live it down.
To get Rourke into the mindset of his character, Coppola gave him some books written by Albert Camus and a biography of Napoleon. The Motorcycle Boy's look was patterned after Camus complete with trademark cigarette dangling out of the corner of his mouth - taken from a photograph of the author that Rourke used as a visual handle. Rourke remembers that he approached his character as "an actor who no longer finds his work interesting.
[MOTORCYCLE BOY EXPLAINS WHAT 'RUMBLE FISH' IS]
We've already talk about it, but it's never enough. This time we bring you a review by the Indian American writer Jhumpa Lahiri. All in the matter of Michael Ondaatje last book, Divisadero.
My life always stops for a new book by Michael Ondaatje. I began Divisadero as soon as it came into my possession and over the course of a few evenings was captivated by Ondaatje's finest novel to date. The story is simple, almost mythical, stemming from a family on a California farm that is ruptured just as it is about to begin. Two daughters, Anna and Claire, are raised not just as siblings but with the intense bond of twins, interchangeable, inseparable. Coop, a boy from a neighboring farm, is folded into the girls' lives as a hired hand and quasi-brother. Anna, Claire, and Coop form a triangle that is intimate and interdependent, a triangle that brutally explodes less than thirty pages into the book. We are left with a handful of glass, both narratively and thematically. But Divisadero is a deeply ordered, full-bodied work, and the fragmented characters, severed from their shared past, persevere in relation to one another, illuminating both what it means to belong to a family and what it means to be alone in the world. The notion of twins, of one becoming two, pervades the novel, and so the farm in California is mirrored by a farm in France, the setting for another plot line in the second half of the book and giving us, in a sense, two novels in one. But the stories are not only connected but calibrated by Ondaatje to reveal a haunting pattern of parallels, echoes, and reflections across time and place. Like Nabokov, another master of twinning, Ondaatje's method is deliberate but discreet, and it was only in rereading this beautiful book--which I wanted to do as soon as I finished it--that the intricate play of doubles was revealed. Every sign of the author's genius is here: the searing imagery, the incandescent writing, the calm probing of life's most turbulent and devastating experiences. No one writes as affectingly about passion, about time and memory, about violence--subjects that have shaped Ondaatje's previous novels. But there is a greater muscularity to Divisadero, an intensity born from its restraint. Episodes are boiled down to their essential elements, distilled but dramatic, resulting in a mosaic of profound dignity, with an elegiac quietude that only the greatest of writers can achieve.Jhumpa Lahiri was awarded the 2000 Pulitzer Prize for fiction, as well as the PEN/Hemingway Award for her mesmerizing debut collection of stories, Interpreter of Maladies. Her poignant and powerful debut novel, The Namesake was adapted by screenwriter Sooni Taraporevala, and released in theaters in 2007.
Divisadero, by Michael Ondaatje
KNOPF / BORZOI BOOKS • HARDCOVER • ISBN: 9780307266354 • MAY 2007
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A Quinecor dedicou-se então principalmente à produção para televisão. Os grandes cinemas começavam a fechar. Era introduzido a pouco e pouco o conceito de que o cinema era uma arte só para elites. Apareceram os cineclubes dedicados à divulgação desse conceito e apareciam os estúdios, com duzentos lugares, bilhetes caros e uma programação para pseudo-intelectuais. Entretanto os americanos iam comprando as distribuidoras europeias e acabavam com o Cinema Europeu. O Cinema Francês que nos dera tantas obras cómicas e não só, com a sua Brigite Bardot e os italianos com a sua Cinecitá, a sua Sofia Loren, os seus filmes cheios de espírito inovador, para além das Anitas Ekberg e tantos talentos, subitamente desapareceram do mapa. Para contrariar o projecto de uma integração europeia pois se chegara à conclusão que a inovação e o progresso eram resultantes da integração de diferentes culturas (na realidade quando temos todos a mesma cultura dificilmente se encontrará algo de novo), os americanos pensaram: - Pois sim!... Podem pensar em integrar as vossas culturas para formar uma potência capaz de nos fazer frente a nós e à China, mas hão-de levar séculos para o conseguir porque não irão dispôr da nova linguagem que tornou possível à América fazer essa integração e criar uma nova potência em apenas duzentos anos: O CINEMA.
Na realidade, historicamente, quando a China se formou integrando as diferentes culturas que a constituem ( e isso só possível graças a uma escrita comum), descobriram a pólvora e a seda e tornaram-se na maior potência mundial. Como todas as potências tornou-se alvo do desejo de integração de outros povos e fecharam-se. Começaram a integrar-se novas culturas na Europa e daí nasceram Nações que descobriram as ondas hertzianas, a rádio, a televisão e tornaram-se nas grandes potências mundiais. Também se fecharam dentro da sua superioridade e abriram o caminho à integração cultural de povos de África, da Europa, e da Ásia, na América. E a América descobriu a Internet, os computadores, os robots. Mas esta integração foi muito mais rápida porque como já se disse, usou a primeira linguagem de massas não discursiva que foi o Cinema para a fazer.
Quando a América estava no seu princípio, em todos os bairros de todas as cidades havia uma coisa a que chamavam os "Nickelodeons", cinemas de bairro com bilhetes de um nickel e sessões contínuas. Entrávamos num desses cinemas e o que víamos? Multidões, descendentes de africanos, de irlandeses, chineses e sei lá que mais, vibrando, rindo e chorando com os heróis americanos, os Texas Jacks, os cowboys, as beldades americanas. E cada um quando saía já ia um pouco mais americano. Em breve havia o jazz, o sonho americano e sei lá que mais.
Ora os americanos sabem bem disso e portanto ocuparam-se, contando na Europa com a ajuda da sua aliada Inglaterra, com a destruição da estrutura europeia de cinema. Os distribuidores de cinema na Europa hoje são a Warner Brothers, a Paramoun,t etc. A Filmitalus, a Odeon, a Gaumont, a Pathé, a Filmitalus, e tantas outras, desapareceram. Em Portugal as distríbuidoras portuguesas foram para a falência.
Os brilhantes cérebros que planearam a União Europeia só se preocuparam em que os países participantes fossem democracias e dessem a independência às colónias (como era exigência da Inglaterra) e assim se fez o Vinte e Cinco de Abril para corresponder às exigências e Portugal pudesse entrar para o grupo e beneficiar das ajudas europeias.
Tenho muitas dúvidas que os nossos dirigentes tenham feito um bom negócio. Mas só, o tempo o dirá.
Então e a televisão? Eu costumo dizer que o cinema é como o futebol. Um espectáculo de massas para multidões vibrarem colectivamente enquanto que a televisão é como jogar matraquilhos. Isso faz-se em casa.
Mas sendo as coisas como são, só me restava trabalhar para a televisão. Fiz dezenas de filmes publicitários para diversas agências de publicidade, uma das quais pertencia ao Gomes Pereira, de quem me tornei grande amigo. Até que apareceu o trabalho de um tal Jimmy Henson, com o seu Cocas e de quem me tornei grande admirador. E então comecei a pensar que o sistema que ele usava, manipulando bonecos com a técnica das marionetas combinada com a técnica dos fantoches era uma boa forma de animar personagens como aqueles que eu idializara para os desenhos animados. Assim, comecei por moldar os bonecos da minha imaginação em barro. Depois fazia moldes em gesso desses bonecos. De seguida apurei a técnica de encher os moldes com poliuretano expansivo que em linguagem comum resulta em espuma de borracha. Depois tratava-se de escavar o interior por forma a que uma mão pudesse mexer a boca dos bonecos e movimentar a expressão do seu rosto. Surgia então o problema do acabamento exterior. Desenvolvi varias técnicas mas a que melhor me pareceu foi a de cobrir as superfícies dos bonecos com pó de lã, fixada com silicone de borracha. Quando tinha personagens suficientes elaborei um projecto, fiz um piloto de demonstração e fui oferecê-lo à RTP. Recebi uma carta assinada pelo Senhor Alfredo Tropa, chefe da programação da RTP, dizendo que a minha proposta tinha sido aceite, que a RTP contratava a feitura de 12 episódios mais um programa piloto que seria pago adiantadamente no valor de setecentos e cinquenta mil escudos por programa.
Assim pús um anúncio no jornal solicitando candidatos a manipuladores de fantoches e apareceram diversos interessados. Acabei por seleccionar três e, coisa interessante, os que mostravam mais capacidade eram músicos e tocavam viola.
Manipular bonecos é mais complicado do que se possa pensar. Logo no princípio reparei que quem manípula tem uma tendência para abrir a boca do boneco quando devia fechar e fechar quando devia abrir. Assim para corrigir esse erro tive a ideia de os aconselhar a pôr a mão esquerda sobre a própria boca e seguir os movimentos com a mão direita no interior do boneco quando falavam. A coisa resultou em cheio e fiz três bons manipuladores. Também construi os cenários e preparei-me para começar as filmagens mas o tal pagamento adiantado por parte da RTP, nunca chegou a vir e assim não me foi possível arrancar com a série.
Mais tarde apareceu-me o irmão do Director de Programas da RTP, o Senhor Victor Manuel, que me propôs usar os meus bonecos para uma série que se chamaria a Pandilha do Tomé. Quando negociámos esse trabalho ele disse-me que a RTP lhe pagava setecentos e cinquenta contos por cada programa e disse que me dava uma percentagem desse dinheiro pela minha colaboração. Ele ofereceu dez por cento e eu aceitei. Era mal pago mas eu estava interessado em lançar os meus bonecos aos quais chamava marioches, por serem uma combinação de marionetas com fantoches. Logo no arranque surgiu um problema. Era preciso arranjar uma loja para servir de cenário à série. Para facilitar (não era preciso fazer deslocações), construí o cenário da loja no meu estúdio da Quinecor, e mais tarde também o do quarto do Tomé e o da entrada da loja com a sua montra.
O Senhor Victor Manuel limitou-se a pagar os materiais para a construção desses cenários.
Começaram as filmagens e muitas coisas se passaram.
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