Within a Sky Full of Earth

Não posso deixar de referir que no comboio de Paris para Lisboa fui abordado por dois agentes da PIDE que estavam muito curiosos para saber o que tinha eu ido fazer para França. Dei todas as explicações e mais tarde vim a saber que eles andavam muito preocupados com uns certos jovens que eram enviados para França pelo ilegalizado Partido Comunista Português, com o fim de desenvolverem e aperfeiçoarem a sua ideologia.
De qualquer forma, fui incorporado para prestar o Serviço Militar obrigatório e não me posso queixar porque passei a maior parte do tempo a desenhar painéis de instrução militar, tarefa que me foi atribuída quando o Comandante da Unidade descobriu que eu era desenhador. No entanro ainda passei por um arrepio quando um dia um major numa aula se me dirigiu com um certo ar de gozo dizendo - Com que então você é pintor?
Eu percebi que ele ia gozar comigo e antes que dissesse mais alguma coisa retorqui - Felizmente nasci com jeito para alguma coisa, senão vinha para seguir a carreira militar.
O major ficou raivoso e gritou-me ameaçador - O que é que você disse????
Eu encolhi-me e tentei explicar da melhor maneira que pude, pedindo desculpas e tentando dar outro sentido às minhas palavras. Lá me safei sem apanhar um daqueles castigos habituais, como a detenção ou a prisão.
Depois de fazer a tropa passei à disponibilidade como sargento e voltei à minha velha paixão: os desenhos animados.
Foi quando se deu um incidente que viria a revolucionar todo o meu futuro.
Li num jornal uma notícia que dizia que o Produtor de Cinema José César de Sá, tinha regressado dos Estados Unidos e trazia com ele a representação de um filme a cores o ANSCO COLOR.
Esta notícia levou-me a procurar o César de Sá com o objectivo de saber se seria possível agora produzir desenhos animados a cores.
O que daqui resultou é objecto de um novo capítulo na história da minha vida.